A gestão de riscos é indispensável na produção agrícola

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(Curadoria Agro Insight)

Na curadoria de hoje, trouxemos um texto da plataforma Visão de Futuro do Agro Brasileiro, sobre as Megatendências do Agro, que aborda a importância da gestão de riscos inerentes a produção agrícola.

Aumento da demanda por gestão de riscos

A atividade agropecuária é fortemente marcada por uma série de especificidades que a tornam particularmente sensível, tais como: a forte dependência de recursos naturais (como terra, clima e solo) e de processos biológicos (Embrapa, 2018).

O ambiente de complexidade crescente e imbricadas interdependências potencializam sensibilidades do agro, aumentando a demanda por gestão de risco e seus instrumentos. Podemos notar esse movimento em Motamed et al. (2018), pois eles mostram que a área agrícola segurada aumentou nos Estados Unidos do patamar de 100 milhões de acres em 1989 para 300 milhões em 2017, e também Souza e Assunção (2020), que mostram o Brasil com 16% da sua área cultivada segurada, mas muito distante de Estados Unidos (89%), China (69%) e Índia (40%).

A questão central para as próximas décadas é perceber que as tradicionais perguntas onde, como e para quem produzir ganharão aspectos mais sinuosos. Os atores do agro, que são parte de um amplo complexo industrial, lidarão com interesses mais assimétricos e com a financeirização crescente do setor. Além disso, o setor tem que lidar com o aumento de desastres induzidos por causas climáticas ou hídricas, tipo de desastre que correspondeu a 50% dos registros entre 1970 e 2019, 45% das mortes e 74% das perdas econômicas (World Meteorological Organization, 2021).

Nesse contexto, a gestão do risco, que já é inseparável da gestão da produção agrícola, caminhará para tornar-se indissociável também de demandas sociais, questões políticas e desafios ambientais, como aponta Glauber et al. (2021). Bolton et al. (2020), ao lançar mão do conceito de cisne verde, reforçam esse argumento ao diagnosticar que novas “incertezas radicais [como as relacionadas à mudança do clima] associadas a fenômenos físicos, sociais e econômicos constantemente mudam e envolvem dinâmicas complexas e reações em cadeia”.

Um exemplo desse diagnóstico é apresentado pelo estudo Interconnected Disaster Risks (Interconnected…, 2021), o qual, ao analisar dez desastres críticos ocorridos em 2020 e 2021, constatou que as causas primárias mais comuns compartilhadas por eles são: emissão de gases de efeito estufa oriundos da ação humana (causa compartilhada por sete dos dez desastres analisados), ações insuficientes de gestão de risco (sete dos dez) e subavaliação de custos e benefícios ambientais na tomada de decisão (seis dos dez).

Incertezas e perigos, conceitos intimamente relacionados à gestão de riscos, passam, portanto, por um processo de redimensionamento das percepções e expectativas relacionadas a eles. Os métodos de análise e gestão de risco deverão avançar para descobrir e conhecer os efeitos desse redimensionamento, permitindo quantificações e medições necessárias para modelar riscos nesse novo contexto.

Os crescentes avanços tecnológicos relacionados a sensoriamento remoto, captação e tratamento de diversos tipos de dados, acessibilidade de dados e informações e previsões meteorológicas auxiliarão nesse processo de remodelagem das percepções em relação a perigos e ameaças, alimentando tanto o processo de definição das corresponsabilidades entre os atores como o monitoramento e a avaliação de riscos (Glauber et al., 2021).

Logo, as próximas décadas demandarão o desenvolvimento de sistemas inovadores de gestão de riscos para o agro, considerando-se elementos como as diferenças regionais e a integração de riscos climáticos, ambientais, socioeconômicos, tecnológicos que venham fomentar a complementariedade entre os mecanismos de mercado e as políticas públicas voltados para essa área (Bolfe et al., 2020).

Assim, a gestão de riscos avançará ao longo das próximas décadas ampliando sua abordagem holística. O enfrentamento das novas incertezas levará à ampliação do diálogo entre as agendas agrícola, pecuária e florestal e à ampliação do foco para elementos que transcendem a questão dos preços (OECD, 2016). Nessa linha, esforços de gestão de riscos evoluirão para definir melhor corresponsabilidades entre a esfera pública, os agentes econômicos e os produtores no que se refere aos riscos relacionados às variações normais de produção, preço e clima, aos eventos catastróficos e ao negócio agropecuário como um todo (OECD, 20

BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS

VISÃO de futuro do agro brasileiro: Aumento da demanda por gestão de riscos. Brasília, DF: Embrapa, 2022.

BOLFE, E.; SANO, E. E.; CAMPOS, S. K. (ed.). Dinâmica agrícola no Cerrado: análises e projeções. Brasília, DF: Embrapa, 2020. v. 1, 308 p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212381/1/LV-DINAMICA-AGRICOLA-CERRADO-2020.pdf. Acesso em: 30 set. 2021.

BOLTON, P.; DESPRES, M.; SILVA, L. A. P. da; SAMAMA, F.; SVARTZMAN, R. The green swan: central banking and financial stability in the age of climate change. [Basel]: Bank for International Settlements, 2020. 107 p. Disponível em: https://www.bis.org/publ/othp31.pdf. Acesso em: 29 set. 2021.

EMBRAPA. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Brasília, DF: Embrapa, 2018. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/10180/9543845/Vis%C3%A3o+2030+-+o+futuro+da+agricultura+brasileira/2a9a0f27-0ead-991a-8cbf-af8e89d62829. Acesso em: 29 set. 2021.

GLAUBER, J.; BALDWIN, K.; ANTÓN, J.; ZIEBINSKA, U. Design principles for agricultural risk management policies. Paris: OECD Publishing, 2021. (OECD Food, Agriculture and Fisheries Paper, n. 157). DOI: https://doi.org/10.1787/1048819f-en.

INTERCONNECTED disaster risks. Bonn: United Nations University-Institute for Environment and Human Security, 2021. Disponível em: https://s3.eu-central-1.amazonaws.com/interconnectedrisks/reports/UNU_Interconnected_Disaster_Risks_Report_210908.pdf. Acesso em: 3 out. 2021.

MOTAMED, M.; HUNGERFORD, A.; ROSCH, S.; O`DONOGHUE, E.; MACLACHLAN, M.; ASTILL, G.; CESSNA, J.; COOPER, J. Federal risk management tools for agricultural producers: an overview. Washington, DC: USDA Economic Research Service, 2018. (Economic Research Report, n. 250). Disponível em: https://www.ers.usda.gov/webdocs/publications/89202/err-250.pdf?v=848.9. Acesso em: 30 set. 2021.

OECD. Agricultural policy monitoring and evaluation 2016. Paris: OECD Publishing, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1787/agr_pol-2016-en.

OECD. Evaluation of agricultural policy reforms in the European Union: the common agricultural policy 2014-20. Paris: OECD Publishing, 2017. DOI: https://doi.org/10.1787/9789264278783-en.

SOUZA, P.; ASSUNÇÃO, J. Risk management in brazilian agriculture: instruments, public policy, and perspectives. Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2020. 47 p. Disponível em: https://www.climatepolicyinitiative.org/wp-content/uploads/2020/08/Report-%E2%80%93-Risk-Management-in-Brazilian-Agriculture.pdf. Acesso em: 28 set. 2021.

WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. WMO the atlas of mortality and economic losses from weather, climate and water extremes (1970–2019). 2021. Disponível em: https://library.wmo.int/index.php?lvl=notice_display&id=21930#.YktRUS3Oqb-. Acesso em: 28 set. 2021.

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Tags: agrícola, gestão de riscos, Produção

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