(Curadoria Agro Insight)
Hoje a curadoria Agro insight com partilha informações sobre o controle de plantas daninhas na cultura da soja. As recomendações são da Embrapa e tem como objetivo orientar os produtores no manejo adequado das plantas daninhas, evitando infestações e a ocorrência de plantas resistentes.
O controle de plantas daninhas é uma prática de elevada importância para a obtenção de altos rendimentos em qualquer exploração agrícola e tão antiga quanto a própria agricultura.
As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura da soja e a necessidade de controlá-las, um imperativo. Conforme a espécie, a densidade e a distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. A invasora prejudica a cultura, porque com ela compete pela luz solar, pela água e pelos nutrientes, podendo, a depender do nível de infestação e da espécie, dificultar a operação de colheita e comprometer a qualidade do grão.
Os métodos normalmente utilizados para controlar as invasoras são o preventivo, o mecânico, o químico e o cultural. Quando possível, é aconselhável utilizar a combinação de dois ou mais métodos.
O controle cultural consiste na utilização de técnicas de manejo da cultura (época de semeadura, espaçamento, densidade, adubação, cultivar, etc.) que propiciem o desenvolvimento da soja, em detrimento ao da planta daninha.
O método mais utilizado para controlar as invasoras é o químico, isto é, o uso de herbicidas. Suas vantagens são a economia de mão de obra e a rapidez na aplicação. Para que a aplicação dos herbicidas seja segura, eficiente e econômica, exigem-se técnicas adequadas. O reconhecimento prévio das invasoras predominantes é condição básica para a escolha adequada do produto, que resultará no controle mais eficiente das invasoras.
A eficiência dos herbicidas aumenta quando aplicados em condições favoráveis. É fundamental que se conheçam as especificações do produto antes de sua utilização e que se regule corretamente o equipamento de pulverização, quando for o caso, para evitar riscos de toxicidade ao homem e à cultura.
Os herbicidas são classificados quanto a época de aplicação, em pré- plantio, pré-emergentes e pós-emergentes.
A) Semeadura direta e a Entressafra
O manejo de entressafra das invasoras requer a utilização de produtos a base de paraquat, paraquat + diuron, glyphosate, 2,4-D, chlorimuron, carfentrazone ou a mistura formulada de glyphosate + imazethapyr. O número de aplicações e as doses a serem utilizadas irão variar, em função da comunidade presente na área e seu estádio de desenvolvimento. Paraquat requer a mistura com surfactante não iônico na base de 0,1% a 0,2% v/v.
Aplicações sequenciais na entressafra têm proporcionado excelentes resultados, principalmente quando se trata de espécies de difícil controle. A primeira aplicação geralmente ocorre cerca de 15 a 20 dias após a colheita da cultura comercial ou espécie cultivada para cobertura do solo.
No caso de espécies perenizadas, como o capim-amargoso e o capim- braquiária, a dose de glyphosate poderá chegar a 5 L/ha. Nessa situação, recomenda-se inicialmente o manejo mecânico (roçadeira, triturador) visando remover a folhagem velha e forçando a rebrota intensa, que deverá ter pelo menos 30 cm de altura no momento da dessecação.
O 2,4-D, indicado para o controle de folhas largas, com intervalo de 10 dias de carência entre a aplicação e a semeadura da soja. Aplicações que não obedeçam as recomendações técnicas podem provocar danos às culturas suscetíveis, como videira, algodão, feijão, café e a própria soja.
A utilização de espécies de inverno para cobertura morta é uma alternativa que tem possibilitado a substituição ou a redução no uso de herbicidas em semeadura direta.
E comum ocorrer a multiplicação de plantas infestantes no período de entressafra. Como consequência pode haver um aumento no banco de sementes destas espécies que encontram no verão condições ideais para a sua germinação, dificultando sobremaneira o seu controle na cultura da soja. Nesse período também é importante o controle da soja voluntária, a qual poderá se tornar hospedeira de ferrugem e outras doenças e pragas que irão se potencializar na safra seguinte. Com a obrigatoriedade do vazio sanitário o ideal é a readequação das aplicações de entressafra, buscando não somente atender as exigências da lei, mas também promover o manejo da população de plantas daninhas como um todo.
O controle de plantas daninhas em culturas de safrinha e em períodos de pousio (entressafra) é uma forma importante de reduzir a densidade de espécies como amendoim-bravo, picão-preto e outras, as quais podem infestar a soja cultivada posteriormente. Também neste período, é importante promover o controle da soja voluntária, a qual poderá se tornar hospedeira de ferrugem e outras doenças e pragas que irão se potencializar na safra seguinte.
Em semeadura direta sobre pastagem, na integração lavoura-pecuária o período entre a dessecação e a semeadura da soja irá variar de
30 a 40 dias. Para as espécies como a Brachiaria decumbens, B. brizantha e Panicum maximum cv tanzânia 30 dias de antecedência podem ser suficientes com glyphosate, na dose de 4-5 L/ha do produto comercial (formulação 360 g de e.a). Para Paspalum notatum, conhecida como grama matogrosso, B. humidicola e Panicum maximum cv mombassa o período irá variar de 30 a 40 dias, com glyohosate na dose de 5 a 6 L/ha.
As áreas que utilizaram o herbicida Tordon para o controle das plantas daninhas da pastagem podem apresentar resíduos que prejudicam a soja, podendo, até, causar morte das plantas. Poderá ser necessário um período de dois anos para que os resíduos sejam degradados e viabilizada a implantação da cultura. Recomenda-se monitorar a área.
B) Manejo de plantas daninhas na soja RR (Roundup Ready)
O desenvolvimento da tecnologia da soja geneticamente modificada (transgênica) para resistência ao herbicida glyphosate (soja RR) trouxe profundas mudanças no manejo de espécies daninhas, pois onde antes se utilizavam outros herbicidas e misturas formuladas, agora poderá ser aplicado esse ingrediente ativo.
Trata-se de um herbicida de amplo espectro de ação, que pode ser utilizado em diferentes estádios de desenvolvimento das plantas daninhas. Entretanto, seu uso em pós-emergência na cultura da soja transgênica deve estar associado às informações já conhecidas sobre mato-interferência, estádios de desenvolvimento da cultura e de registro e cadastro estadual.
A operação de controle das plantas que germinam antes da semeadura (dessecação de manejo), normalmente recomendada para soja convencional, deve ser mantida, observando os critérios já estabelecidos e, apenas em casos raros, esta prática poderá ser alterada.
A utilização do glyphosate em pós-emergência da cultura e das espécies infestantes poderá ser feita em aplicação única ou sequencial.
Atenção especial (estádio de desenvolvimento da planta daninha, densidade de infestação, dose, época de aplicação, etc.) deve ser dada às espécies tolerantes a esse herbicida como trapoeraba, erva-quente e erva-de-touro. Outras espécies de difícil controle, tais como erva-de-santa-luzia, poaia-branca, agriãozinho, capim-barbicha-de-alemão e corda-de-viola, podem ser selecionadas em função do uso continuado desse produto. Biotipos de buva, azevém, capim-amargoso e amendoim bravo resistentes ao glyphosate foram encontrados no Brasil, o que justifica ainda mais o manejo adequado dessas espécies, principalmente no período de entressafra.
Desse modo, com o intuito de evitar a seleção de espécies tolerantes e resistentes ao glyphosate é importante rotacionar soja convencional e transgênica (soja RR) e/ou herbicidas de diferentes mecanismos de ação.
Assim, é necessário ter em mente que a utilização do glyphosate em soja RR constitui-se em mais uma ferramenta no controle das plantas daninhas e que as práticas de manejo integrado dessas espécies devem continuar sempre sendo priorizadas.
C) Disseminação
Plantas daninhas possuem mecanismos eficientes de dispersão. A adoção das praticas sugeridas para se evitar a disseminação das plantas daninhas incluem desde o uso de sementes de boa procedência até a eliminação dos primeiros focos de infestação. O uso de uma mesma colhedora em diferentes áreas, sem a devida limpeza, tem sido um importante meio de disseminação destas espécies. Com o aumento do número de espécies resistentes aos herbicidas, a prevenção na disseminação torna-se imprescindível. Biótipos resistentes devem ser identificados e controlados, pois além de perdas de produtividade, implicam também em maior dificuldade para se manejar plantas daninhas, aumentando o uso de produtos e o custo de produção.
D) Resistência
Tem sido constatada a resistência de certas plantas daninhas como Brachiaria plantaginea e Digitaria ciliaris, resistentes aos herbicidas inibidores da ACCase; Bidens pilosa, Bidens subalternans, Euphorbia heterophylla e Parthenium hysterophorus, resistentes aos herbicidas inibidores da enzima ALS, e Conyza bonariensis, Conyza canadensis, Lolium multiflorum, Digitaria insularis e Euphorbia heterophylla, resistentes ao glyphosate, cujo mecanismo de ação é a inibição da EPSPs.
No entanto, é comum confundir-se falta de controle com resistência. A maioria dos casos de seleção e de resistência podem ser esperados quando se utiliza o mesmo herbicida, ou herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, consecutivamente. Erros na dose e na aplicação são as causas da maioria dos casos de falta de controle.
Prevenir a disseminação e a seleção de espécies resistentes são estratégias fundamentais para evitar-se esse tipo de problema. A utilização e a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação e a adoção do manejo integrado (rotação de culturas, uso de vários métodos de controle, etc) fazem parte do conjunto de indicações para um eficiente controle das invasoras.
E) Dessecação em pré-colheita da soja
A dessecação da soja é uma prática que pode ser utilizada somente em área de produção de grãos, com o objetivo de controlar as plantas daninhas ou uniformizar as plantas com problemas de haste verde/ retenção foliar.
Sendo necessária a dessecação em pré-colheita, é importante observar a época apropriada para executá-la. Aplicações realizadas antes da cultura atingir o estádio reprodutivo “R7”, provocam perdas no rendimento. Esse estádio é caracterizado pelo início da maturação (apresenta uma vagem amarronzada ou bronzeada na haste principal – Fehr & Caviness, 1981). Os produtos utilizados são o paraquat (Gramoxone, na dose de 1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II) ou diquat (Reglone, na dose de 1,5-2,0 L ha-1 do produto comercial, classe toxicológica II). Doses mais elevadas devem ser utilizadas em áreas com maior massa foliar. No caso de predominância de gramíneas, utilizar o Gramoxone. Quando houver predominância de folhas largas, principalmente corda-de-viola (Ipomoea grandifolia), utilizar o Reglone.
A dessecação em pré-colheita de campos de sementes de soja convencional (não RR) com glyphosate não deve ser realizada, uma vez que essa prática acarreta redução de qualidade de semente, reduzindo seu vigor e germinação, devido ao não desenvolvimento das radículas secundárias das plântulas.
Para evitar que ocorram resíduos no grão colhido, deve observar- se o intervalo mínimo de sete dias entre a aplicação do produto e a colheita.
F) Manuseio de herbicidas e descarte de embalagens
Utilizar herbicidas devidamente registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e cadastrados na Secretaria de Agricultura dos estados que adotam este procedimento para uso na cultura da soja e para a espécie de planta daninha que deseja controlar. O número do registro consta no rótulo do produto.
Usar equipamento de proteção individual (EPI) apropriado, em todas as etapas de manuseio de agrotóxicos (abastecimento do pulverizador, aplicação e lavagem de equipamentos e embalagens), a fim de evitar possíveis intoxicações.
Não fazer mistura em tanque, de dois herbicidas, ou de herbicida (s) com outro (s) agrotóxico (s), procedimento proibido por lei (Instrução Normativa do MAPA nº 46, de 07/ 2002). Somente são permitidas a utilização de misturas formuladas.
Em aplicação de herbicidas em condições de pós-emergência, respeitar o período de carência do produto (entre a data de aplicação e a colheita da soja). Na dessecação em pré-colheita, observar, obrigatoriamente, o intervalo mínimo de sete dias entre a pulverização do herbicida e a colheita, para evitar resíduos do herbicida nos grãos colhidos. Ler com atenção o rótulo e a bula do produto e seguir todas as orientações e os cuidados com o descarte das embalagens.
Devolver as embalagens vazias (após a tríplice lavagem das embalagens de produtos líquidos), no prazo de um ano após a compra do produto, ao posto de recebimento indicado na nota fiscal de compra, conforme legislação do MAPA (Lei 9.974, de 06/06/2000 e Decreto 4.074, de 04/01/2002).
G) Manejo da Buva
A buva (Conyza spp) é uma planta que produz elevada quantidade de sementes, com características e estruturas que conferem fácil dispersão. Sua infestação tem aumentado significativamente em áreas de produção de grãos, principalmente no sistema soja-trigo-milho.
As espécies mais freqüentes são a Conyza canadensis (ERICA) e a Conyza bonariensis (ERIBO), morfologicamente muito semelhantes. Apresentam fácil adaptabilidade ecológica ao sistema de semeadura direta ou cultivo mínimo do solo. Especificamente na soja, a interferência da buva não se limita a reduções do rendimento, cujos valores podem chegar a 50% do potencial produtivo. Pode provocar também o aumento no percentual de umidade e de impureza dos grãos.
O manejo dessa planta exige um conjunto de ações como, por exemplo, a manutenção da cobertura do solo com culturas como o trigo, a aveia ou os consórcios de milho safrinha e forrageiras, como as braquiárias, evitando-se o pousio. Estas alternativas devem ser integradas com o controle químico.
Trata-se de uma planta com pico de germinação nos meses de julho e agosto e seu controle deve ser iniciado imediatamente após a colheita das culturas de inverno, pois o seu controle na pós-emergência da soja apresenta limitações com relação à eficiência dos herbicidas recomendados para essa modalidade.
A dificuldade de controle químico, que deve ser realizado na entressafra, está associada ao tamanho das plantas, principalmente quando estão acima de 10 cm, e quando a população é resistente ao glyphosate. Em áreas com a presença de biótipos resistentes ao glyphosate, o controle químico deve ser realizado pela associação do glyphosate com herbicidas de outros mecanismos de ação, residual ou hormonal, podendo ser complementados com o uso de dessecantes de contato não seletivos, em aplicação sequencial.
Quanto aos herbicidas de pré-semeadura da soja, normalmente é necessário mais de uma aplicação, que deve ser iniciada com as plantas ainda pequenas. Em areas com a presença de biótipos resistentes, glyphosate pode continuar a ser utilizado já que a comunidade infestante contempla outras espécies alem da buva, porém deve ser combinado com produtos de ação residual ou hormonal, complementados com o uso de dessecantes de contato não seletivos.
Em áreas cultivadas com milho o solo fica em pousio por um período mais prolongado, o que exige maior atenção e provavelmente maior número de aplicações de herbicidas. O controle da buva em pós- emergência da soja apresenta limitações de eficiência de produto, por isso deve ser eliminada antes da semeadura.
H) Manejo de capim-amargoso
A disseminação do capim-amargoso (Digitaria insularis) resistente ao glifosato tem causado preocupação no meio agrícola. O controle dessa planta daninha é complexo e exige a adoção de diferentes estratégias de manejo, químicas e não químicas, tanto na pré como na pós-emergência das culturas.
O capim-amargoso é uma gramínea perene adaptada a diferentes ambientes agrícolas, que se reproduz por sementes e pequenos rizomas, com a formação de touceiras. Resultados de pesquisa mostraram que a competição do capim-amargoso com a soja reduziu a produtividade da cultura de 3392 kg ha-1 para 1885 kg ha-1, na presença 4 a 8 plantas m-2, ou seja, perdas equivalentes a 44% ou (25 sacos por ha.).
Esta infestante pode ser controlada antes da semeadura, através da aplicação de herbicidas pré-emergentes. Na pós-emergência, esta infestante tem maior sensibilidade para ser controlada quando estiver com até 3 a 4 perfilhos. Nesta situação, o controle pode ser feito com o uso de graminicidas pós-emergente, nas doses normais de bula.
No entanto, o grande desafio que os agricultores enfrentam é o manejo das plantas adultas, quando já se formaram touceiras. Nestas condições, as aplicações de graminicidas nas doses de bula não tem apresentado controle satisfatório, com ocorrência de rebrotes. Resultados de pesquisas tem indicado a necessidade de doses entre 50 a 80 % superiores às recomendadas na bula, sendo muitas vezes necessário até o dobro da dose, inclusive seguida de uma segunda aplicação, denominada de controle sequencial. Estudos continuam sendo feitos para a calibragem das doses dos graminicidas. É importante observar a existência do registro de cada produto pelo MAPA, para essa modalidade de uso, assim como de cadastro nos Estados que o fazem.
Algumas práticas ajudam no controle do capim-amargoso, como não deixar áreas em pousio. A palhada das culturas de entressafra, especialmente as de trigo e aveia no Sul e as braquiárias no Centro-Oeste, ajudam no manejo do capim-amargoso. A aplicação de herbicidas em plantas roçadas mecanicamente ou pela barra de corte da colhedora de soja só deve ser feita quan do as plantas apresentarem bom desenvolvimento vegetativo ou rebrota, com aproximadamente 30 cm de altura, e desde que em condições climáticas adequadas. A altura de roçagem deve ser preferencialmente em torno de 10 cm. O controle em áreas infestadas conjuntamente com buva e capim-amargoso pode envolver o uso de 2,4-D e graminicidas. Dependendo das condições de trabalho, clima, idade da planta, tamanho das touceiras e dose dos produtos, essa combinação pode resultar em problemas de incompatibilidade e a redução da eficiência dos graminicidas. Quando do uso de glifosato nos programas de controle do capim-amargoso, é importante a utilização da dose recomendada no rótulo.
BILBIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Tecnologias de produção de soja – Região Central do Brasil 2014. – Londrina: Embrapa Soja, 2013. 265p. ; 21cm. – (Sistemas de Produção / Embrapa Soja, ISSN 2176- 2902; n.16)