(Curadoria Agro Insight)
A curadoria de hoje é sobre a ferrugem-asiática da soja e a maior ocorrência na safra 2022/23. Também trouxemos os resultados de uma publicação da Embrapa sobre a eficiência dos fungicidas para o controle da doença.
Como nas safras anteriores, o mês de janeiro vem apresentando rápido aumento nos relatos de ferrugem-asiática nos estados e municípios produtores de soja. Segundo levantamento do Consórcio Antiferrugem, na safra 2022/23, há 119 relatos da doença e a ferrugem está presente em nove estados brasileiros, sendo 79% das ocorrências em lavouras comerciais na fase de enchimento de grãos. Na mesma época, na safra passada, havia 59 relatos, porém, as condições climáticas eram diferentes – menor volume de chuvas na região Sul do País, Mato Grosso do Sul e Paraguai – o que reduziu a ocorrência da doença.
A pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, explica que a ferrugem está favorecida pelas chuvas bem distribuídas ao longo desta safra. “Em regiões em que as chuvas estão regulares, a doença é mais comum quando ocorre falhas de aplicações de fungicidas ou os fungicidas utilizados têm baixa eficiência para o controle da ferrugem”, explica Godoy.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mais de 50% das lavouras estão em fase de enchimento de grãos (após R5), situação onde a doença causa menos dano. Godoy afirma que o potencial de dano da ferrugem-asiática é maior nas lavouras ainda em estádio vegetativo, floração e formação de vagens, que recebem maior quantidade de inóculo do fungo das áreas semeadas mais cedo. “Permanecendo as condições favoráveis para a doença, as lavouras mais atrasadas irão necessitar de aplicações com fungicidas com alta eficiência para o controle da doença”, alerta. “Mesmo os produtos mais eficientes para o controle devem estar associados ao uso de fungicidas multissitios, à medida que aumenta o inóculo da ferrugem nas regiões”, comenta.
A comparação da eficiência de fungicidas registrados e em fase de registro para o controle da ferrugem-asiática vem sendo feita em experimentos em rede, realizados desde a safra 2003/2004, no Brasil. Os fungicidas são avaliados individualmente, em aplicações sequenciais, em semeaduras tardias, para determinar a eficiência de controle.
Eficiência dos fungicidas registrados
Tabela 1. Severidade da ferrugem-asiática (SEV), porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos no protocolo com fungicidas registrados. Média de 17 experimentos para severidade e produtividade, safra 2021/2022.Outras doenças da soja na safra 22/23 – A pesquisadora da Embrapa relata ainda a ocorrência de outras doenças nessa safra. Nas regiões do Cerrado, por exemplo, onde vem ocorrendo boa distribuição de chuvas nas semeaduras iniciais tem-se observado alta incidência de mancha-alvo. Além disso, na região Sul, há relatos de mofo-branco nas regiões mais altas com temperaturas mais amenas e em períodos de menor precipitação a presença do oídio.
TRATAMENTOS | L/ kg p.c./ha | g i.a./ha | SEV (%) | C (%) | PROD (kg/ha) | RP (%) | ||||||||
1. Testemunha | – | – | 71 | A | 2.741 | H | 27 | |||||||
2. Cypress (difenoconazol + ciproconazol) | 0,3 | 75 + 45 | 46,8 | B | 34 | 3.075 | G | 19 | ||||||
3. Dart1 (picoxistrobina + tebuconazol) | 0,5 | 60 + 100 | 25,6 | H | 64 | 3.464 | DE | 8 | ||||||
4. Nativo2 (trifloxistrobina + tebuconazol) | 0,5 | 50 + 100 | 29,7 | FG | 58 | 3.433 | E | 9 | ||||||
5. Fusão3 (metominostrobina + tebuconazol) | 0,725 | 79,75 + 119,63 | 23 | IJ | 68 | 3.466 | DE | 8 | ||||||
6. Fezan Gold4 (tebuconazol + clorotalonil) | 2,5 | 125 + 1.125 | 23,7 | HIJ | 67 | 3.584 | BCD | 5 | ||||||
7. Armero1 (mancozebe + protioconazol) | 2,25 | 1.125 + 90 | 18,8 | L | 74 | 3.722 | AB | 1 | ||||||
8. Blavity5 (protioconazol + fluxapiroxade) | 0,3 | 84 + 60 | 22,2 | JK | 69 | 3.727 | AB | 1 | ||||||
9. Elatus6 (azoxistrobina + benzovindiflupir) | 0,2 | 60 + 30 | 39,3 | C | 45 | 3.245 | F | 14 | ||||||
10. Viovan (picoxistrobina + protioconazol) | 0,6 | 60 + 70,02 | 24,8 | HI | 65 | 3.528 | CDE | 7 | ||||||
11. Vessarya (picoxistrobina + benzovindiflupir) | 0,6 | 60 + 30 | 31,6 | EF | 55 | 3.443 | DE | 9 | ||||||
12. Orkestra SC5 (piraclostrobina + fluxapiroxade) | 0,35 | 116,55 + 58,45 | 33,9 | DE | 52 | 3.480 | DE | 8 | ||||||
13. Alade (benzovindiflupir + ciproconazol +
difenoconazol) |
0,75 | 45 + 67,5 + 112,5 | 34,7 | D | 51 | 3.419 | E | 9 | ||||||
14. Ativum5 (piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade) | 0,8 | 65 + 40 + 40 | 29,1 | G | 59 | 3.411 | E | 10 | ||||||
15. Fox Xpro2 (bixafen + protioconazol + trifloxistrobina) | 0,5 | 62,5 + 87,5 + 75 | 20,4 | KL | 71 | 3.657 | ABC | 3 | ||||||
16. Evolution7 (mancozebe + azoxistrobina +
protioconazol) |
2,0 | 1.050 + 75 + 75 | 19,9 | L | 72 | 3.713 | AB | 2 | ||||||
17. Cronnos1 (mancozebe + picoxistrobina+
tebuconazol) |
2,5 | 1.000 + 66,5 + 83,33 | 16,2 | M | 77 | 3.774 | A | 0 | ||||||
18. Programa8 | 19 | L | 73 | 3.733 | AB | 1 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). 1Adicionado Rumba 0,25 L/ha; 2Adicionado Aureo 0,25% v/v; 3Adicio- nado Iharol Gold 0,25% v/v; 4Adicionado Partner 50 mL/ha; 5Adicionado Mees 0,25% v/v; 6Adicionado Ochima 0,25 L/ha; 7Adicionado Strides 0,25% v/v. 8Programa: T6/ T17/ T10 e Controller 800 WP 1,5 kg/ha (mancozebe 1.200 g i.a./ha) / T2 e Bravonil 1,5 L/ha (clorotalonil 1.080 g i.a./ha), tratamentos aplicados em intervalos, em média, de 14 dias.
Eficiência de fungicidas em fase de registro
Tabela 2. Severidade da ferrugem-asiática (SEV), porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fun- gicida, produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos no protocolo com fungicidas em fase de registro. Média de 16 experimentos para severidade e produtividade, safra 2021/2022.
TRATAMENTOS | DOSES | SEV (%) | C (%) | PROD
(kg/ha) |
RP (%) |
|||
L/ kg p.c./ha | g i.a./ha | |||||||
1. Testemunha | – | – | 70,7 | A | – | 2.774 | E | 27 |
2. Blavity1 (protioconazol + fluxapiroxade) | 0,3 | 84 + 60 | 20,8 | D | 71 | 3.642 | BC | 4 |
3. Fox Supra2 (protioconazol + impirfluxam) | 0,35 | 84 + 42 | 15,4 | F | 78 | 3.790 | A | 0 |
4. Excalia Max3 (tebuconazol + impirfluxam) | 0,5 | 100 + 30 | 18,6 | E | 74 | 3.674 | AB | 3 |
5. PNR4, 6 (fluindapir + protioconazol) | 0,6 | 84 + 84 | 22,5 | CD | 68 | 3.557 | BC | 6 |
6. PNR5, 6 (tebuconazol + piraclostrobina) | 0,8 | 184 + 92 | 29,8 | B | 58 | 3.347 | D | 12 |
7. PNR5, 6 (piraclostrobina + difenoconazol + protioconazol) | 0,6 | 90 + 60 + 90 | 23,1 | C | 67 | 3.521 | C | 7 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). 1Adicionado Mees 0,25% v/v; 2Adicionado Áureo 0,25% v/v; 3Adicionado Agris 0,5 L/ha; 4Adicionado Strides 0,25% v/v; 5Adicionado Agefix E8 0,3 L/ha; 6PNR – produto não registrado, RET III.
Eficiência de fungicidas sítio-específicos em mistura com fungicidas multissítios
Tabela 3. Severidade (SEV) da ferrugem-asiática, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos no protocolo com fungicidas sítio-específicos em mistura com fungicidas multissítios. Média de 15 experimentos para severidade e produtividade, safra 2020/2021.
TRATAMENTOS |
DOSES | SEV | C | PROD | RP | |||
L/ kg p.c./ha | g i.a./ha | (%) | (%) | (kg/ha) | (%) | |||
1. Testemunha | – | – | 70,1 | A | 2.809 | H | 31 | |
2. Cronnos1 (mancozebe + picoxistrobina +
tebuconazol) |
2,5 | 1.000 + 66,65 +
83,33 |
15,4 | HI | 78 | 3.909 | ABC | 4 |
3. Almada1 (mancozebe + protioconazol + fluxapiroxade) | 2,25 | 990+ 70,87 +
50,62 |
13,3 | J | 81 | 4.053 | A | 0 |
4. PNR2,7 (mancozebe + picoxistrobina +
protioconazol) |
3,0 | 1239 + 99 + 87 | 14,8 | IJ | 79 | 3.929 | AB | 3 |
5. PNR2,7 (mancozebe + trifloxistrobina +
protioconazol) |
3,0 | 1263 + 75 + 87 | 16,1 | GHI | 77 | 3.915 | ABC | 3 |
6. PNR7 e Unizeb Gold3 (fluindapir +
protioconazol e mancozebe) |
0,6 e 1,5 | 84 + 84 e 1.125 | 19,4 | DE | 72 | 3.849 | BCD | 5 |
7. Viovan e Dithane NT (picoxistrobina +
protioconazol e mancozebe) |
0,6 e 1,5 | 60 + 70 e 1.200 | 19,4 | DE | 72 | 3.790 | BCDE | 6 |
8. Excalia Max e Troia 800 WP4 (tebuconazol
+ impirfluxam e mancozebe) |
0,5 e 1,5 | 100 + 30 e 1.200 | 15,7 | HI | 78 | 3.876 | BC | 4 |
9. Nativo e Manfil 8002 (trifloxistrobina +
tebuconazol e mancozebe) |
0,5 e 1,5 | 50 + 100 e 1.200 | 25,1 | C | 64 | 3.624 | F | 11 |
10. PNR5,8 (clorotalonil + impirfluxan +
metominostrobina) |
2,0 | 1.142,8 + 34,2+
68,6 |
17,8 | EFG | 75 | 3.721 | DEF | 8 |
11. Fusão e Absoluto Fix5 (metominostrobina
+ tebuconazol e clorotalonil) |
0,725 e 1,5 | 79,75 + 119,63 e
1.080 |
17,1 | FGH | 76 | 3.691 | EF | 9 |
12. PNR7 e Pilarich5 (tebuconazol +
piraclostrobina e clorotalonil) |
0,8 e 1,5 | 184 + 92 e 1.080 | 18,9 | DEF | 73 | 3.708 | DEF | 9 |
13. Cypress e Bravonil 720 (difenoconazol +
ciproconazol e clorotalonil) |
0,3 e 1,5 | 75 + 45 e 1.080 | 32,0 | B | 54 | 3.431 | G | 15 |
14. Dart e Reconil1 (picoxistrobina + tebuconazol e oxicloreto de cobre) | 0,5 e 0,7 | 60 + 100 e 411,6 | 20,7 | D | 70 | 3.774 | CDEF | 7 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). 1Adicionado Rumba 0,25 L/ha; 2Adicionado Áureo 0,25% v/v; 3Adicionado Strides 0,25% v/v; 4Adicionado Agris 0,5 L/ha; 5Adicionado Iharol 0,25%v/v; 6Adicionado Agefix E8 0,3 L/ha, 7PNR – produto não registrado, RET III; 8RET II.
Considerações
Os protocolos dos ensaios cooperativos determinam aplicações sequenciais para comparação dos fungicidas, não sendo uma recomendação de controle. No manejo da doença devem ser seguidas as estratégias antirresistência que incluem não utilizar o mesmo produto em sequência em mais de duas aplicações e, no máximo, duas aplicações de produtos contendo carboxamida por cultivo.
Semear no início da época recomendada é uma das estratégias de manejo da ferrugem para escapar do período de maior quantidade de inóculo do fungo no ambiente. O manejo da ferrugem-asiática deve ser adequado à época de semeadura. Os fungicidas representam uma das ferramentas de manejo, devendo ser adotadas todas as demais estratégias para o controle eficiente da doença.
BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS
GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M.; MEYER, M. C.; CAMPOS, H. D.; LOPES, I. de O. N.; TOMEN, A.; MOCHKO, A. C. R.; DIAS, A. R.; MUHL, A.; SCHIPANSKI, C. A.; SERCILOTO, C. M.; CHAGAS, D. F.; ANDRADE JUNIOR, E. R. de; ARAUJO JUNIOR, I. P.; GALDINO, J. V.; ROY, J. M. T.; BONANI, J. C.; GRIGOLLI, J. F. J.; KUDLAWIEC, K.; NAVARINI, L.; BELUFI, L. M. de R.; SILVA, L. H. C. P. da; FANTIN, L. H.; SATO, L. N.; GOUSSAIN JUNIOR, M. M.; GARBIATE, M. V.; SENGER, M.; MÜLLER, M. A.; DEBORTOLI, M. P.; MARTINS, M. C.; TORMEN, N. R. Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2021/2022: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa Soja, 2022, 28p.
Embrapa/Notícias – Chuva aumenta relatos da ferrugem da soja na safra 22/23. Janeiro de 2023.