(Curadoria Agro Insight)
Hoje, a curadoria vai abordar um tema que ainda recebe pouca atenção, mas que é extremamente importante no contexto dos sistemas agrícolas de produção, se trata da polinização. Para abordar esse assunto, trouxemos alguns materiais da Embrapa e do Senar.
O que é polinização?
A polinização é a transferência de grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de uma outra flor da mesma espécie. As anteras são os órgãos masculinos da flor e o pólen é a gameta masculino. Para que haja a formação das sementes e frutos é necessário que os grãos de pólen fecundem os óvulos existentes no aparelho reprodutor feminino.
A transferência de pólen para o estigma pode ocorrer das anteras para o estigma da mesma flor ou de flor diferente, mas na mesma planta (autopolinização) ou pode ser feita de uma flor para outra em plantas diferentes (polinização cruzada).
Como ocorre a polinização?
A transferência de pólen pode ser através de fatores bióticos, ou seja, com auxílio de seres vivos, ou abióticos, através de fatores ambientais, esses fatores pode ser: vento (Anemofilia), água (Hidrofilia); insetos (Entomofilia), morcegos (Quiropterofilia), aves (Ornitofilia).
Para atrair os agentes polinizadores bióticos as espécies vegetais oferecem recompensas, pólen, néctar, óleos ou mesmo odores, utilizadas na alimentação ou reprodução dos animais. Contudo, nem todos os animais que procuram as recompensas atuam como polinizadores efetivos, muitos visitantes são apenas pilhadores oportunistas, que roubam a recompensa sem exibir um comportamento adequado para realizar uma polinização eficiente.
Anos de co-evolução entre planta e agente polinizador, favoreceram umas adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamental, que algumas vezes tiveram como conseqüência uma dependência tão estreita que a extinção de um leva a extinção do outro.
Conceitos sobre polinização
Fonte: Senar
As abelhas e a polinização
Na maioria dos ecossistemas mundiais, as abelhas são os principais polinizadores (BIESMEIJER & SLAA, 2006). Estudos sobre a ação das abelhas no meio ambiente evidenciam a extraordinária contribuição desses insetos na preservação da vida vegetal e também na manutenção da variabilidade genética (NOGUEIRA-COUTO, 1998).
Estima-se existir cerca de 20.000 espécies de abelhas, contudo este número pode ser duas vezes maior, sendo necessário realizar estudos de levantamento das abelhas e as interações abelha-planta nos diversos biomas (ROUBICK, 1992). Entretanto, devido à redução das fontes de alimento e locais de nidificação, ocupação intensiva das terras e uso de defensivos agrícolas, as populações de abelhas silvestres têm sido reduzidas drasticamente, colocando em risco todo o bioma em que vivem. Uma das dificuldades em se promover a conservação das abelhas é a falta de conhecimento sobre as mesmas.
Nas regiões tropicais, as abelhas sociais (Meliponina, Bombina e Apina) estão entre os visitantes florais mais abundantes (HEITHAUS, 1979; ROUBIK, 1992; BAWA, 1990). No Brasil, as abelhas sem ferrão (Meliponina) são responsáveis pela polinização de 40 a 90% das espécies arbóreas (KERR et. al., 1996); dessa forma, a preservação das matas nativas é dependente da preservação dessas espécies.
Fonte: Embrapa
Polinização assistida
Fonte: Senar
Polinizadores e o impacto dos processos agrícolas
As abelhas são mais reconhecidas pelos seus produtos (mel, cera ou própolis) do que pela polinização, um dos mais importantes serviços ambientais. Cerca de 800 plantas cultivadas necessitam de serviço de polinização em algum grau e 74 delas produzem alimentos de largo consumo. O serviço ambiental de polinização é estimado em €150 bilhões na Europa e em US$200 bilhões nos EUA. Apesar de a agricultura depender do serviço de polinização, este é afetado negativamente por atividades antropogênicas, particularmente agrícolas. A mortalidade de abelhas é um fenômeno secular e ocorre em ciclos naturais, ou por fatores como patógenos (bactérias, vírus, fungos, nematoides), ácaros, estresses (nutricional, térmico, de movimentação), plantas tóxicas, falta de habitat ou agrotóxicos, havendo interações entre causas de mortalidade. Os agrotóxicos em geral, e neonicotinoides em particular, são tóxicos ou altamente tóxicos para abelhas. Recentemente uma forma de desaparecimento, sem causas definitivamente esclarecidas, foi denominada de Distúrbio do Colapso das Colônias. Entre as causas aventadas estão o efeito de inseticidas, entre eles os neonicotinoides, pois doses subletais provocariam desorientação nas abelhas. Para a grande maioria dos estudos identificados na literatura, os efeitos subletais de neonicotinoides somente se manifestam em doses superiores àquelas a que as abelhas estão expostas no campo, tanto para as silvestres quanto doméstica. A mortalidade de abelhas por agrotóxicos está sempre associada ao descaso com as boas práticas agrícolas. Para tanto propõe-se que o Brasil disponha de legislação adequada, com processos continuados e abrangentes de educação e conscientização do agricultor, com fiscalização adequada, e meta de Acidente Zero. Para atingir a meta é necessário otimizar os parâmetros da tecnologia de aplicação, com treinamento e conscientização de aplicadores, restrições às aplicações em determinadas épocas ou cultivos eadequação de tecnologia de formulação.
Autor: Gazzoni (2014).
Polinização da soja
Fonte: Senar
Polinização do algodão
Fonte: Senar
Polinização de fruteiras nativas do cerrado
Fonte: Senar
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
GAZZONI, D. L. Polinizadores e o impacto dos processos agrícolas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 25., 2014, Goiânia. Entomologia integrada à sociedade para o desenvolvimento sustentável: anais. [Londrina]: SEB, 2014.
BAWA, K.S. Plant-pollinator interactions in tropical rain forests. Ann. Rev. Ecol. System., v. 21, p. 399-422, 1990.
BIESMEIJER, J. C.; SLAA, E. J. The structure of eusocial bee assemblages in Brazil. Apidologie, n. 37, p. 240-258, 2006.
HEITHAUS, E.R. Community structure of neotropical flower visiting bees and wasps: diversity and phenology. Ecology, n. 60, p. 190-202, 1979.
KERR, W.E.; CARVALHO, G. A; NASCIMENTO, V.A.; et al. Abelha uruçu: biologia, manejo e conservação. Belo Horizonte: Fundação Aguangaú, 144p., 1996.
NOGUEIRA-COUTO, R. H. As abelhas na manutenção da biodiversidade e geração de rendas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 12, 1998, Salvador-BA. Anais… Salvador: 1998, p. 101.
ROUBIK, D. W. Ecology and natural history of tropical bees. 1. ed.