(Curadoria Agro Insight)
O PIB do agronegócio brasileiro, calculado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), alcançou recordes sucessivos em 2020 e em 2021, com esse biênio se caracterizando como um dos melhores da história do agronegócio nacional. Já em 2022, o PIB do setor iniciou o ano com decréscimo, de 0,8% no primeiro trimestre.
Segundo pesquisadores do Cepea, a queda, que foi registrada tanto no ramo agrícola (-0,75%) quanto no pecuário (-0,96%), esteve atrelada, em grande medida, à forte alta dos custos com insumos na agropecuária e também na agroindústria.
Entre os segmentos do agronegócio, apenas o de insumos cresceu no primeiro trimestre (9,61%). Pesquisadores do Cepea indicam que esse desempenho foi impulsionado sobretudo pelas valorizações dos insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e máquinas – o que se reflete na pressão de custos sobre a agricultura, como mencionado.
Dentro da porteira, na agricultura, a queda do PIB (-4,22%) no trimestre se deve à intensa elevação dos custos com fertilizantes, defensivos, combustíveis, sementes e outros. A queda só não foi mais intensa porque também se estima crescimento do faturamento agrícola no ano, reflexo da expansão esperada das safras, com destaque para milho e café, e da alta dos preços reais dos produtos agrícolas, sobretudo do café, a madeira, o tomate, a mandioca, a cana e o algodão.
Já no segmento primário pecuário, o PIB cresceu 1,18% no trimestre – isso porque, espera-se leve alta do faturamento anual, e os custos apresentaram uma leve queda frente ao primeiro trimestre de 2021, devido ao patamar expressivamente elevado alcançado naquele período. A estagnação do faturamento pecuário, por sua vez, decorre dos movimentos divergentes entre as atividades que o compõe: os preços subiram na comparação trimestral para bovinos, aves de corte, ovos e leite, mais caíram expressivamente para suínos; já a produção aumentou para bovinos e aves, mas reduziu para leite, ovos e suínos.
Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação acumulada no período.
Setor | Insumo | Primário | Agroindústria | Agrosserviços | Total |
Agronegócio | 9,61 | -2,48 | -0,43 | -1,51 | -0,80 |
Ramo agrícola | 13,77 | -4,22 | -0,10 | -1,29 | -0,75 |
Ramo pecuário | -2,53 | 1,18 | -1,89 | -2,18 | -0,96 |
O PIB do segmento agroindustrial do agronegócio também teve queda modesta, de 0,43% no primeiro trimestre de 2022, com reduções para as agroindústrias de bases agrícola (0,1%) e pecuária (1,89%). Assim como dentro da porteira, a queda do PIB refletiu o aumento dos custos industriais a taxa superior à do crescimento esperado para o faturamento. Além dos maiores preços das matérias-primas agropecuárias, outros custos também subiram, como os de energia e logísticos, ao passo que a ainda enfraquecida demanda doméstica dificulta o repasse desses custos aos preços ao consumidor.
Por fim, o PIB dos agrosserviços também recuou, 1,51%, devido à dinâmica dos segmentos a montante. Considerando-se esse desempenho e o comportamento do PIB brasileiro no período, estima-se que a participação do setor na economia fique em por volta de 26,24% em 2022, pouco abaixo dos 27,6% registrados em 2021.
Destaque
Preços dos insumos agrícolas impulsionam segmento no início de 2022
Considerando os dados coletados até março, o PIB do segmento de insumos do agronegócio cresceu 9,61% no primeiro trimestre de 2022. O segmento foi impulsionado pelo desempenho das atividades que compõem o ramo agrícola – o PIB do segmento de insumos agrícolas cresceu 13,77%, ao passo que o PIB dos insumos pecuários recuou 2,53% (Tabela 1). A partir da Figura 1 é possível verificar o desempenho individual de cada atividade que compõe o segmento.
Com base nos dados coletados até março deste ano, a projeção para a indústria de fertilizantes e corretivos do solo indica crescimento de 84,78% do faturamento anual. Esse resultado reflete a valorização dos preços, que cresceram, em termos reais, 107,64% na comparação entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro de 2021. Para a produção anual nacional, no entanto, é estimada redução de 11,01%. Ao longo de 2021, a alta dos preços dos fertilizantes já impulsionou os custos de produção dos agricultores, pressionando as suas margens – cenário que se agrava em 2022. Neste início de ano, em meio ao conflito no Leste Europeu, as sanções econômicas impostas à Rússia dificultaram as transações de fertilizantes (e de outros produtos) desse país e, consequentemente, elevaram os preços desses insumos. Além disso, a alta dos preços de matérias-primas utilizadas na produção de fertilizantes, como o gás natural, também tem influenciado os preços do produto final.
Em relação aos defensivos, estima-se crescimento de 50,77% do faturamento anual da indústria, como resultado do avanço dos preços reais, que cresceram 20,81% na comparação entre trimestres iguais, e da maior produção anual esperada, cuja projeção indica aumento de 24,80%. Em alguma medida, a alta dos preços reflete a restrição de oferta mundial tanto de defensivos quanto de matérias-primas para a sua produção, decorrente, principalmente, de gargalos logísticos. Por outro lado, a despeito do encarecimento, a demanda por defensivos deve se manter aquecida, uma vez que, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), é esperado crescimento da área tratada em 2022, em virtude do aumento da área plantada no Brasil e da proliferação de pragas, doenças e ervas daninhas de difícil controle nas lavouras.
Para a indústria de máquinas agrícolas, é esperado crescimento de 39,45% do faturamento anual, decorrente da alta dos preços reais, que avançaram 21,05% na comparação entre trimestres iguais, e do aumento da produção anual nacional, para a qual se espera crescimento de 15,20%. No início deste ano, a indústria sustentou o bom desempenho que se verificou ao longo do ano passado. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apesar da presença de alguns gargalos, que envolvem a obtenção de peças e componentes, o saldo para o setor se mantém positivo em virtude do desempenho da agricultura brasileira e crescimento da renda no campo.
Para a indústria de rações, espera-se queda de 11,17% do faturamento anual, em virtude da desvalorização de 14,83% dos preços reais, na comparação entre trimestres iguais. Já para a produção anual, é esperado crescimento de 4,3% em relação a 2021. É importante destacar que esse resultado dos preços está atrelado ao fato de que, no primeiro trimestre de 2021, a média dos preços das rações esteve consideravelmente alta, relativamente aos outros trimestres daquele ano. Todavia, o alto patamar dos preços da alimentação animal segue sendo uma preocupação para os pecuaristas.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. PIB d Agronegócio. Junho de 2022.