(Curadoria Agro Insight)
O consumo mundial de proteína animal aumentou expressivamente nos anos 2000, com Taxas Geométricas de Crescimento (TCG) de 3,1% e 1,1% ao ano, respectivamente, no período 2001-2021 (Estados Unidos, 2021). Um dos impactos gerados por este fato foi o aumento na demanda por farelos proteicos utilizados na fabricação de ração animal, normalmente oriundos de grãos de soja (Henchion et al., 2014). Nesse contexto, o consumo mundial de soja em grão passou de 171,0 milhões de toneladas (Mt) no ano agrícola 2000/2001 para 363,0 Mt em 2020/2021, o que correspondeu a uma TGC de 3,9% ao ano. Referente ao farelo de soja, o consumo no período passou de 116,1 para 245,0 Mt, com uma TGC de 3,8% ao ano.
O outro produto derivado da soja em grão é o óleo. No ano agrícola 2000/2001, 96,1% do consumo do produto estava associado à alimentação humana (Estados Unidos, 2021). Porém, o fortalecimento da política energética mundial com o consequente avanço da geração de energia renovável teve como impacto o aumento na produção de biocombustíveis (Benavides et al., 2013).
Em um cenário marcado pelo crescimento no consumo de proteína animal e óleos alimentícios e pela maior preocupação com a saúde e o desenvolvimento de novas matrizes energéticas, a soja se tornou uma das commodities mundiais mais importantes e a principal do Brasil.
Aumento da produtividade
Entre os anos agrícolas de 2000/2001 a 2020/2021, houve uma expansão territorial da soja em nível mundial, impulsionada pelo Brasil, Índia e Argentina. Contudo, a TGC da área foi de 2,6% ao ano, bem inferior ao crescimento da produção do grão (4,1% a.a.). Esse descompasso foi compensado pelo aumento na produtividade mundial da soja, que saltou de 2.326 kg/ha para 2.864 kg/ha e apresentou uma TGC anual de 1,2% no período (Estados Unidos, 2021).
Em todos os estados brasileiros houve aumento linear da produtividade da soja, considerando as 25 safras avaliadas (Tabela 1). No Brasil, a produtividade da soja aumentou, em média, 46,7 kg ha/ano. O RS e a BA obtiveram as
maiores taxas de aumento de produtividade, alcançando patamares superiores a 60 kg ha/ano.
Tabela 1. Taxa anual absoluta (kg/ha) e relativa (%) do incremento de produtividade de soja no Brasil e nos estados brasileiros em 25 safras (1996/1997 a 2020/2021).
Taxa anual (kg/ha) | Taxa anual (%) | R2 ajustado | |
Brasil | 46,7** | 2,03** | 0,76 |
RS | 65,7** | 4,05** | 0,45 |
SC | 58,2** | 2,50** | 0,67 |
PR | 42,7** | 1,62** | 0,48 |
SP | 51,7** | 2,25** | 0,65 |
MG | 57,6** | 2,60** | 0,80 |
MS | 54,8** | 2,19** | 0,58 |
MT | 25,5** | 0,93** | 0,62 |
GO | 42,7** | 1,70** | 0,67 |
DF | 54,0** | 2,25** | 0,72 |
MA | 34,0** | 1,60** | 0,38 |
TO | 51,1** | 5,68** | 0,53 |
PI | 42,5** | 2,12** | 0,23 |
BA | 65,4** | 2,94** | 0,56 |
PA | 39,7** | 1,87** | 0,60 |
RO | 19,6** | 0,73** | 0,57 |
** Coeficientes significativos a 1% de probabilidade.
Efeito poupa terra no Brasil
Em todos os estados brasileiros houve aumento linear da produtividade da soja, considerando as 25 safras avaliadas. No Brasil, a produtividade da soja aumentou, em média, 46,7 kg/ha/ano. O RS e a BA obtiveram as maiores taxas de aumento de produtividade, alcançando patamares superiores a 60 kg/ha/ano. Por outro lado, RO e MT apresentaram as menores taxas de aumento anual de produtividade, ficando inferiores a 26 kg/ha/ano. Isso decorre, principalmente, em função da elevada produtividade registrada na primeira safra da série considerada (1996/1997). O aumento gradativo da produtividade da soja, além de permitir a viabilidade econômica da cultura, também foi importante para evitar a abertura de novas áreas – o chamado efeito “poupa-terra”. No Brasil, o aumento de produtividade de soja desde a década de 1960 permitiu um efeito poupa-terra de, aproximadamente, 71 milhões de hectares (Gazzoni et al., 2021).
Síntese
Em 25 safras (1996/1997 a 2020/2021), a soja apresentou crescimento significativo de área e produtividade no Brasil. A associação do aumento de área e produtividade proporcionaram elevado crescimento de produção da oleaginosa.
Nas 25 safras avaliadas, constatou-se correlação negativa entre a produtividade média de soja dos estados e o coeficiente de variação da produtividade. Os estados que apresentaram maiores produtividade médias e estabilidade de produção foram RO e MT. Por outro lado, RS, PI, TO e BA apresentaram menores produtividades médias e reduzida estabilidade de produção.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Antonio Balbinot Junior … [et al.]. Análise da produção, área cultivada, produtividade e estabilidade produtiva da soja nos estados brasileiros em 25 safras (1996/1997 a 2020/2021). Londrina : Embrapa Soja, 2022. 20 p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento / Embrapa Soja).
Estados Unidos. Department of Agriculture. Market and trade data. 2021. Disponível em: http://apps.fas.usda.gov/psdonline/psdQuery.aspx
HENCHION, M.; McCARTHY, M.; RESCONI, V. C.; TROY, D. Meat consumption: trends and quality matter. Meat Science, v. 98, p. 561-568, 2014.
BENAVIDES, P. T.; SALAZAR, J.; DIWEKAR, U. Economic comparison of continuous and batch production of biodiesel using soybean oil. Environmental Progress & Sustainable Energy, v.32, p.11-24, 2013.