(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria de hoje vamos trabalhar um caminho sem volta, a pecuária sustentável, nesse artigo, trouxemos resultados recentes do Plano ABC, desenvolvido pela Embrapa e empresas parceiras. Além do motivador depoimento de uma pecuarista que já pratica o modelo sustentável de pecuária há 10 anos.
Fazendas da cadeia da carne que adotam tecnologias sustentáveis sequestraram mais carbono do que emitiram, aponta estudo
Foram apresentados na Embrapa Meio Ambiente, os resultados preliminares do projeto ‘Validação de protocolo MRV (avaliação, relato e verificação) das Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e da sustentabilidade sócio ambiental, bem-estar animal e governança ‘.
O projeto, uma iniciativa que abriga parceiros como a Embrapa (por meio da Plataforma ABC), Corteva Agriscience, Minerva Foods, World Resources Institute – WRI, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Uberlândia, Fundação Getúlio Vargas – FGV- Agro e De Lollo Agronegócios, buscou calcular e contabilizar como fonte da produção em várias frentes de 33 fazendas, para calcular as emissões líquidas das diversas atividades agrícolas e pecuária das propriedades.
Os resultados iniciais do projeto apontam que a maioria das fazendas analisadas sequestraram mais carbono que emitiram.
Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa, explica que todas as propriedades são adotantes de práticas sustentáveis e, se algumas figuram como emissoras, o fato está diretamente relacionado à limitação imposta pelo tempo de adoção em fazendas que adotam tecnologias de baixo carbono há mais de 20 anos. Para Assad, nesses casos, a alternativa é a adequação ambiental na propriedade, com a recuperação de APPs e Reserva Legal, e/ou reflorestamento e a introdução do componente florestal do sistema ILPF.
Celso Manzatto, ressalta a crescente demanda dos consumidores e mercados sobre a sustentabilidade das cadeias produtivas de alimentos e o interesse dos produtores na adoção de práticas sustentáveis de produção capazes de alinhar ganhos de produtividade, redução de custos e sustentabilidade socioambiental.
Taciano Custódio, diretor de sustentabilidade da Minerva Foods, maior empresa exportadora de carne bovina da América do Sul, exalta a composição da parceria e o contexto de disrupção e inovação representados pelos resultados iniciais do projeto, capazes, segundo ele, de alavancar oportunidades, já que os números retratam uma cadeia produtiva já voltada para o mercado de exportação e contam a história de um produtor que investiu em tecnologia, em uma maneira mais sustentável de ocupar o território.
“Acredito que a adoção de pacotes tecnológicos, com genética, redução da idade de abate, rotação de pastagem, integração, lavoura pecuária, sistemas intensificados, como semiconfinamento, representam o produtor rural com foco não só em produzir alimentos para atender mercados, mas que está engajado no propósito de combate às mudanças do clima e em busca da sustentabilidade da cadeia pecuária da América do Sul”, disse Custódio. |
Segundo William Marchió, a adoção de tecnologias de baixo carbono do Plano ABC são mais rentáveis para o produtor que aqueles métodos empregados na agricultura tradicional. Isso faz com que os produtores migrem para os meios tecnificados. Por essa razão, no início desse projeto tínhamos plena consciência de que a pecuária nacional já era sustentável.
Para Guilherme Foresti Caldeira, da Coterva Agrocience, o projeto “pecuária de baixo carbono” é uma iniciativa extremamente relevante para futuro da pecuária nacional, não só no mercado interno, mas principalmente pelo mercado externo, impulsionada pela demanda crescente nos próximos anos, e não só por quantidade, mas principalmente por qualidade, no contexto da sustentabilidade, produzir cada vez mais uma menor área, com uma melhor qualidade, respeitando as pessoas e o meio ambiente.
EXEMPLO DE SUCESSO
Realizando uma pecuária de baixo carbono e produzindo um boi barato
Marize Porto Costa, da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), fala sobre sua experiência com o sistema ILPF, destacando a recuperação de pastagens degradadas, ganhos de produtividade nas atividades agrícolas e pecuárias e a implantação do componente florestal na propriedade.
Produção: Embrapa Cerrados
O que é o Plano ABC?
O Plano ABC é uma política pública composta de um conjunto de ações que visam promover a ampliação da adoção de algumas tecnologias agropecuárias sustentáveis com alto potencial de mitigação das emissões de GEE e combate ao aquecimento global.
O Plano ABC foi estruturado em sete Programas: 1) Recuperação de Pastagens Degradadas; 2) Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); 3) Sistema Plantio Direto (SPD); 4) Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN); 5) Florestas Plantadas; 6) Tratamento de Dejetos Animais; e, 7) Adaptação a Mudanças Climáticas.
Em cada programa é proposta a adoção de uma série de ações, como por exemplo, fortalecimento da assistência técnica, capacitação e informação, estratégias de transferência de tecnologia, dias-de-campo, palestras, seminários, workshops, implantação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs), campanhas de divulgação e chamadas públicas para contratação de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER).
Essas ações estão dividas em três grandes grupos: adaptação às mudanças climáticas, mecanismos para o monitoramento e ações transversais a serem executadas até 2020.
Diante da importância e a dimensão que o Plano ABC tomou, observou-se a necessidade de detalhamento e modificações dos compromissos originais da agricultura, firmados na COP-15, que passaram a ser compostos por meio da adoção das seguintes ações:
- Recuperar uma área de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas por meio do manejo adequado e adubação;
- Aumentar a adoção de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 4 milhões de hectares;
- Ampliar a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) em 8 milhões de hectares;
- Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): ampliar o uso da fixação biológica em 5,5 milhões de hectares;
- Promover as ações de reflorestamento no país1, expandindo a área com Florestas Plantadas, atualmente, destinada à produção de fibras, madeira e celulose em 3,0 milhões de hectares, passando de 6,0 milhões de hectares para 9,0 milhões de hectares.
- Ampliar o uso de tecnologias para tratamento de 4,4 milhões de m3 de dejetos de animais para geração de energia e produção de composto orgânico.
Esses compromissos foram ratificados no artigo 12 da Lei que institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima – PNMC (Lei n.º 12.187, de 29 de dezembro de 2009).
Nesta legislação está definido que o Poder Executivo, em consonância com a Política Nacional sobre Mudança do Clima, estabelecerá os Planos Setoriais de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono em diferentes setores.
No âmbito do Plano ABC, já foram implantados Grupos Gestores Estaduais em todos os Estados da Federação e no DF, os quais têm organizado Planos Estaduais com estabelecimento de ações regionais de transferência de tecnologia, capacitação de técnicos e produtores rurais, fortalecimento da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), implantação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs), etc., em torno das tecnologias previstas. Isso promoverá uma intensa qualificação de todos os recursos humanos envolvidos no setor produtivo e aumentará a capacidade de adoção de sistemas de produção sustentáveis que assegurem a redução de emissões de GEE e elevem simultaneamente a renda dos produtores.