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Cadeia da carne bovina e as discussões sobre mudanças climáticas

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(Curadoria Agro Insight)

A produção de carne bovina ainda é considerada uma importante fonte de gases do efeito estufa. Neste sentido o tema foi debatido na Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP26).  Com o objetivo de atualizar os produtores acerca dessas discussões, que certamente terão impactos na cadeia da carne, trouxemos na curadoria de hoje o Boletim do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCARNE) número 51 (Análise da equipe de especialistas). Neste Boletim, os pesquisadores Sergio Raposo de Medeiros, Fernando Rodrigues Teixeira Dias e Guilherme Cunha Malafaia, abordam principalmente a participação dos brasileiros durante o debate.

A produção de carne bovina na mira da COP26

Na fala inicial do moderador Dave Keating, jornalista, uma das dúvidas era se a escolha mais inteligente seria colocar o pé no freio da demanda ou avançar para uma produção de carne bovina mais ambientalmente amigável.

O evento teve a participação de Mariane Crespolini, diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do MAPA, Ciniro Costa Jr., pesquisador do Desenvolvimento de Baixas Emissões no Programa de Pesquisa do CGIAR sobre Mudança Climática, Agricultura e Segurança Alimentar, Eduardo Brito Bastos, diretor de sustentabilidade da Bayer Crop Science do Brasil e de Donald Broom, doutor emérito em bem-estar animal da Universidade de Cambridge.

PECUÁRIA SUSTENTÁVEL

Ciniro Costa comentou que a pecuária seria responsável por 15% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), e que a produção de carne bovina corresponderia a 5% das emissões. O pesquisador comentou que há previsões de aumento de 25% na produção de carne até 2050, mas se as melhores práticas de produção e mitigação forem utilizadas em escala, as emissões podem ser reduzidas para menos da metade, uma vez que a gestão da fazenda tem grande influência nas emissões. Em relação às produções mais extensivas, há um potencial de produção de 7 a 10 vezes maior nas mais intensivas, com redução em pelo menos 50% na intensidade de emissão, quando comparamos esses dois extremos. O especialista em mudança climática comentou ainda que, como a cadeia de suprimento da carne bovina é longa e bem segmentada, é uma das cadeias produtivas com maior potencial de redução das emissões de gases de efeito estufa.

CASOS DE SUCESSO

Mariane Crespolini mostrou iniciativas bem sucedidas no Brasil para enfrentar o desafio da produção sustentável. Segundo a diretora do MAPA, é possível produzir mais e, ao mesmo tempo, com menor impacto ambiental, inclusive de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Mariane mostrou informações sobre o protocolo de carne carbono neutro, da Embrapa, por meio do qual as emissões são compensadas em sistemas integrados que tenham o componente florestal estocado nas árvores pelo carbono, e apresentou como exemplo, a fazenda Santa Brígida, de Ipameri-GO, que ilustra o poder transformador dos sistemas integrados de sistemas extensivos economicamente inviáveis para sistemas de alta rentabilidade. Comentou, enfim, sobre o sucesso do plano ABC, uma política pública que ajudou sobremaneira a adoção de sistemas mais produtivos e na recuperação de áreas degradadas.

IMPORTÂNCIA DO SETOR

Eduardo Bastos começou destacando que a pecuária de corte envolve o trabalho de mais de 1 bilhão de pessoas, dado que mostra como o setor é importante, tanto do ponto de vista do impacto social, como da geração de emprego e renda, embora grande parte desse contingente produza para consumo próprio. O diretor do Bayer acredita que a população poderá consumir mais carne, mas que esta carne terá que ser rastreável, para garantir ao consumidor que venha de sistemas sustentáveis, de baixa emissão de gases de efeito estufa. Eduardo comentou ainda comentou que é muito importante ter a preocupação com a degradação da terra e o aumento de carbono no solo pela raiz das pastagens, e que no Brasil haveria uma grande área de pastos degradados ou em degradação.

PONTOS ALTOS DO DEBATE

1. Como trazer o fazendeiro para a produção sustentável?

R: Para Ciniro, apesar de vários trabalhos mostrarem que as práticas mitigadoras têm relação benefício/custo favorável, ainda assim as maiores barreiras seriam suporte técnico e recursos para os investimentos necessários para migrar de sistemas mais extensivos para mais intensivos.

Segundo Bastos, o que mais faltaria para intensificar a produção sustentável seria mesmo o suporte técnico e financeiro. Corroborando com a importância de financiamento. Mariane explicou que os recursos do programa ABC acabaram em seis meses em 2020. Eduardo lembrou que ao migrar para sistemas mais bem manejados e aumentar a matéria orgânica, o solo é capaz de reter mais água, o que ajuda na resiliência do sistema, algo que também serviria de argumento para a mudança. Mariana adicionou o comentário de como investimentos no ABC se pagaram, mostrando que, de fato, a intensificação, se bem estabelecida na relação economia-ambiente, se dá na forma ganha-ganha.

Mariane sugeriu que o produtor comece em uma área menor, por exemplo, 20% da área, onde aprenderá e se aperfeiçoará para fazer a transição paulatinamente da área toda. Não só isso viabiliza o fluxo de caixa, mas garante uma melhoria contínua na própria transição da fazenda.

2. O que esperar da COP26?

R: Todos concordam que a COP26 será muito importante para a pecuária mundial, lembrando que a agropecuária é uma das atividades mais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas. Eduardo acredita que a palavra-chave para uma boa participação na COP26 será cooperação e que devem ser buscadas “soluções baseadas na natureza”. Ciniro comentou que faz apenas dez anos que a pecuária foi para a mesa de negociação, e que é muito bom que permaneça nela, pois isso é um estímulo para a busca de mais e melhores soluções. Para esse ano, e os seguintes, Ciniro acredita que estarão em foco, entre outros, os sistemas integrados, financiamentos, assistência técnica e novas formas de produção. O mais importante, segundo Ciniro, seria aproveitar todas as promessas dos países de adotar a chancela de carbono neutro, a fim de tentar conectar cadeias de suprimento ao consumidor e todos colaborem reduzindo a pegada ambiental, em todos os setores, o mais rápido possível.

OPINIÃO DO CICARNE

Concordamos com os aspectos levantados pelos entrevistados sobre as dificuldades na adoção de tecnologias que permitem o desenvolvimento, em escala, dos sistemas produtivos descarbonizantes no Brasil. Adicionalmente, colocaríamos mais um ingrediente, o melhor preparo em gestão e inteligência de negócio por parte do pecuarista brasileiro. Há uma grande parcela que, ainda, precisa ser preparada para a nova onda de desenvolvimento da pecuária – tecnificada, intensiva, de ciclo curto, com baixa emissão de GEE e cada vez mais digital. Essa nova onda caracteriza-se pela complexidade do seu gerenciamento, especialmente em sistemas integrados, o que demandará cada vez mais capacitação gerencial.

Reverberamos que a COP26 será uma excelente oportunidade para a pecuária brasileira reverter a imagem negativa, em termos ambientais, que o setor possui no exterior. Precisamos comunicar eficientemente que somos uma das pecuárias com maior potencial descarbonizante do mundo.

REFERÊNCIAS E LINKS RELACIONADOS

Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCARNE) BOLETIM número 51

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Tags: Carne Bovina, cicarne, COP26, mitigação das mudanças climáticas, sustentabilidade

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