(Curadoria Agro Insight)
Olá! Hoje vamos abordar os detalhes que devem ser observados na implantação de espécies frutíferas, e ao final, trouxemos um vídeo produzido pelo Programa Terra Sul (Embrapa Clima Temperado e Emater/RS-Ascar) que aborda aspectos técnicos sobre o mesmo tema.
Antes de implantar um pomar, deve-se responder alguns questionamentos: O que plantar? Onde plantar? Qual será o mercado existente ou potencial? Em quanto tempo teremos o retorno do investimento?
A fruticultura é um negócio e todas as etapas que envolvem questões técnicas, econômicas e ecológicas devem ser consideradas antes da decisão de plantar, pois os custos são elevados, os mercados são exigentes em qualidade e muito competitivos. Portanto, todos os riscos devem ser calculados e analisados antes do plantio do pomar.
O sucesso no cultivo de qualquer espécie frutífera deve estar fundamentado em:
- Condições adequadas de clima e solo;
- Plantio de espécies adaptadas;
- Uso de técnicas apropriadas para o manejo do solo e da planta;
- Recursos humanos e financeiros;
- Condições de transporte e armazenamento;
- Existência de mercado para o consumo “in natura” ou de indústria.
As frutas, de uma maneira geral, são perecíveis e, portanto, devem ser consumidas ou industrializadas tão logo sejam colhidas no pomar, ou armazenadas em ambientes apropriados, caso contrário as perdas poderão ser totais.
1. CUSTO DE IMPLANTAÇÃO
Os custos envolvem o valor da terra e seu preparo, mudas, insumos, equipamentos, infraestrutura e mão-de-obra, entre outras, fazendo com que esta atividade tenha um alto investimento inicial. Deve-se considerar o período de carência da espécie, a vida útil, o mercado e a produtividade do pomar. Com isso é possível realizar uma análise apurada da viabilidade técnica e econômica.
2. LOCALIZAÇÃO
A escolha do local ideal depende de uma série de variáveis, como as condições climáticas, o tipo de solo, a disponibilidade de água, topografia do terreno, disponibilidade de mão-de-obra, facilidade de transporte e mercado para comercialização.
2.1. Condições climáticas
- Temperatura
As plantas necessitam de diferentes valores de temperaturas para cada um de seus períodos fenológicos, tais como dormência, brotação, floração, frutificação, vegetação e maturação das frutas.
As plantas de clima temperado necessitam de um período de baixas temperaturas no inverno para que haja uma superação efetiva da dormência (temperaturas inferiores ou iguais a 7,2°C). Em locais onde o número de horas de frio não é suficiente, pode-se compensá-lo aplicando-se reguladores vegetais associados ou em misturas com óleo mineral ou ainda utilizando cultivares que necessitem uma menor quantidade de frio para sair da dormência.
- Chuvas
A distribuição pluviométrica, ao longo do período do ano, é importante, pois o excesso de chuvas em um determinado período pode provocar o aparecimento de doenças. Chuvas pesadas podem também provocar o aparecimento de zonas encharcadas no interior do pomar, o que pode ser muito prejudicial às plantas frutíferas, visto que a maioria delas não suporta períodos prolongados com solos alagados. Por outro lado, a falta de chuvas no período que antecede à colheita pode causar diminuição do tamanho e até mesmo queda das frutas.
- Umidade relativa
Locais com umidade relativa elevada aumentam os riscos e prejuízos com doenças. Esta variável é muito presente nas regiões edafoclimáticas produtoras de frutas no sul do Brasil, o que contribui para elevar o custo de produção e o uso de agrotóxicos.
- Ventos
Os ventos dominantes danificam as plantas, principalmente os ramos novos, aumentando os riscos de doenças pela facilidade na disseminação das mesmas. Além disso, o vento causa quebra de ramos, quebra das mudas no ponto de enxertia, queda de frutas, entre outros. Durante o período de floração, o vento pode dificultar o trabalho de insetos polinizadores, como, por exemplo, das abelhas, diminuindo a polinização e, consequentemente, a frutificação.
Recomenda-se implantar quebra-ventos para deter os ventos dominantes, de preferência na forma de L. Normalmente o quebra-vento protege uma área anterior quatro vezes maior do que sua altura e uma área posterior de até 20 vezes, ou seja, se as plantas do quebra-vento tiverem 5 metros de altura, a proteção do pomar será de aproximadamente 100 metros.
As plantas utilizadas para a formação do quebra-vento devem ser de preferência melíferas, que apresentem crescimento rápido, boa ramificação, folhas perenes e sistema radicular pouco agressivo, devendo serem dispostas em filas duplas ou triplas para fornecer melhor proteção.
- Granizos e geadas
O controle de granizo é muito difícil e, em locais sujeitos a chuvas de granizo, não se recomenda o plantio de frutíferas. Mas pode-se utilizar as telas antigranizo, que protegem o cultivo sem impedir a circulação de ar ou incidência do sol, embora aumente o custo de produção.
O efeito prejudicial do abaixamento de temperaturas, provocado por geadas, depende do estádio fenológico da planta. Geadas do cedo ou tardias são mais prejudiciais à planta e seu controle envolve grandes despesas com energia.
2.2. Solo
Para instalação de pomares, deve-se dar preferência para solos francos, profundos e bem drenados, evitando-se solos encharcados ou sujeitos a encharcamento ou que possuam camada que impeçam a drenagem.
Deve-se evitar o plantio em áreas que antes foram cultivadas com frutíferas, procurando realizar rotação de culturas com plantas anuais e só depois de 3 anos voltar a plantar espécies frutíferas, de preferência, de família botânica diferente da anterior.
2.3. Água
A propriedade deve possuir água de qualidade e em quantidade para realização de irrigações, tratamentos fitossanitários, para o consumo humano, entre outros.
2.4. Exposição do terreno e topografia
Em solos mais inclinados, deve-se escolher a exposição norte, devido à melhor insolação e à menor incidência de vento. De preferência na meia encosta, evitando-se o plantio em áreas muito acidentadas, com declives acima de 20%.
A disposição das plantas no pomar deve considerar o melhor aproveitamento da luz solar. Assim, as plantas que receberam uma maior quantidade de luz solar serão também as mais produtivas.
2.5. Mão de obra
As práticas realizadas no pomar necessitam de mão-de-obra qualificada e em grande quantidade. Normalmente são necessários de um a três homens por hectare, pois, praticamente todas as atividades que envolvem o manejo da planta, são realizadas manualmente.
2.6. Transporte
As frutas se caracterizam por serem bastante perecíveis e sensíveis ao manuseio. Isso exige que se tenha estradas que permitam o transporte rápido do local de produção ao destino final da fruta, quer seja a indústria ou o consumo “in natura”.
Os cuidados devem ser iniciados no momento da colheita, procurando-se evitar, de todas as formas, os danos nas frutas, que irão depreciá-los no momento da comercialização, causando, até mesmo, o descarte dos mesmos.
2.7. Mercado
Antes de instalar um pomar deve-se ter informações sobre as demandas regionais, estaduais, nacionais e internacionais; os períodos do ano que as frutas alcançam melhores preços; sobre as variedades de preferência do consumidor, principalmente com relação ao tamanho, cor e sabor das frutas.
As frutas destinadas ao mercado “in natura” alcançam preços mais elevados do que as frutas destinadas à indústria, porém requerem embalagem adequada e maiores cuidados no manuseio por parte dos produtores.
3. SELEÇÃO DAS ESPÉCIES OU CULTIVARES
- Valor cultural
Diz respeito à resistência das plantas a doenças, produtividade, resistência ao transporte, vigor e precocidade. Nem sempre é possível juntar todas estas características na mesma cultivar. No caso de pomares domésticos, dá-se preferência para as cultivares que sejam resistentes a doenças e pragas, em detrimento da qualidade das frutas.
- Valor comercial
Está relacionado à preferência do mercado, tamanho, cor, aspecto da fruta e destinação da produção. Tradicionalmente, em qualquer parte do mundo, as frutas destinadas ao consumo “in natura”, alcançam melhores preços que aqueles destinados à indústria.
- Época de amadurecimento
No caso de frutas destinadas ao consumo “in natura”, deve-se procurar utilizar espécies que apresentem o pico de maturação em épocas diferentes das cultivares existentes na região.
Já no caso de pomares destinados à indústria, que geralmente se caracterizam por serem pomares mais extensos, normalmente se recomenda utilizar cultivares com época de maturação diferente, pois com isso evita-se a concentração de atividades no mesmo período. Além disso, diminui-se o risco de grandes perdas devido à ocorrência de geadas, granizos, estiagens, entre outros.
Sempre que possível, recomenda-se fazer um escalonamento da produção, plantando cultivares precoces, medianas e tardias. O planejamento da colheita das frutas aproveita melhor o equipamento e a mão-de-obra disponível.
4. PREPARO DO SOLO PARA O PLANTIO
Quando pretende-se instalar um pomar em áreas ocupadas, anteriormente, por matos ou mesmo capoeiras, as práticas de preparo do solo envolvem:
- Destoca;
- Subsolagem;
- Retirada de raízes e de pedras;
- Aração profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade;
- Adubação de base e gradagem;
- Cultivo de uma gramínea anual por um período de 1 a 2 anos antes do plantio da espécie frutífera.
Quando pretende-se instalar um pomar em áreas já cultivadas, as práticas de preparo do solo envolvem:
- Subsolagem para remover possíveis camadas compactadas;
- Aração profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade;
- Adubação de base e gradagem.
Os pomares de plantas frutíferas apresentam um longo período produtivo, em geral superior a 12 anos. Isso faz com que sejam necessários cuidados especiais com relação às correções de deficiências ou excessos de nutrientes no solo.
Para análise de solo, as amostras devem ser coletadas em duas profundidades, de 0 a 20cm e de 20 a 40cm, pois a maioria das raízes das plantas se localizam nesta área.
O resultado da análise do solo deve ser somado e a incorporação deve ser realizada até 40cm de profundidade.
A análise do solo é repetida a cada cinco anos. Para algumas espécies frutíferas, recomenda-se a aplicação de micronutrientes no solo, principalmente o boro, como forma de corrigir deficiências futuras.
Para manter o solo protegido, recomenda-se cultivo de cobertura logo após o preparo do solo para o plantio.
5. AQUISIÇÃO DE MUDAS
Alguns cuidados devem ser tomados com relação à aquisição das mudas:
- Escolher um viveirista idôneo;
- Encomendar as mudas com um ano de antecedência;
- Comprar mudas dentro de padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e;
- Escolher os porta-enxertos adaptados à região e que sejam compatíveis com cultivar desejada.
6. ÉPOCA DE PLANTIO
A época mais adequada para realizar o plantio das mudas no campo depende, basicamente, da região e do tipo de muda utilizada.
Para mudas de raiz nua, o plantio deve ser realizado no período de baixa atividade fisiológica da planta e quando o solo apresente um bom teor de umidade, o que corresponde, para a região sul, aos meses de junho a agosto. Para mudas produzidas em embalagens, comum nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e nordeste do Brasil, o plantio pode ser realizado no período das chuvas ou em qualquer período do ano, desde que haja uma irrigação.
7. VÍDEO: Etapas para realizar a implementação de frutícolas
Quando se fala na implantação de espécies frutíferas, que possuem um longo período produtivo, assume grande importância a atenção a algumas etapas desse processo. No vídeo a seguir, técnicos e pesquisadores irão abordar detalhes técnicos que são fundamentais para o sucesso do cultivo.
8. BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
– FACHINELLO, J.C.; NACHTIGAL, J.C.; KERSTEN, E. Fruticultura fundamentos e práticas. Editora e. Gráfica UFPEL 311 p., 1996. frutíferas
2 Comentários. Deixe novo
Maravilha de trabalho… Muito esclarecedor…
Obrigada!