(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria Agro Insight de hoje, trouxemos um artigo sobre o desenvolvimento de um protocolo para avaliação de bioinsumos à base de bacilos. Uma carência que está sendo suprida e pode ajudar tanto na ampliação dos produtos disponíveis, quanto possibilitar que o produtor “on farm” possa avaliar a eficiência do seu produto, antes da aplicação.
Foto: Embrapa
Uso de Bacilos no controle biológico
Os produtos formulados com bactérias do gênero Bacillus, bem como os obtidos via fermentação “on farm” ou caseira, são os mais utilizados no controle de doenças de plantas no Brasil. Atualmente, as espécies utilizadas nos produtos comerciais registrados no Mapa à base de Bacillus são: Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus licheniformis, Bacillus methylotrophicus, Bacillus pumilus, Bacillus subtilis e Bacillus velezensis. Ao analisar a distribuição dessas espécies nos 79 biofungicidas e bionematicidas à base de Bacillus, registrados até março de 2022 no Mapa, observa-se que 44,3% dos produtos são à base de Bacillus amyloliquefaciens; 31,6% à base de Bacillus subtilis; 7,6% à base de Bacillus velezensis; 7,6% à base de Bacillus licheniformis; 6,3% à base de Bacillus pumilus; e 2,6% à base de Bacillus methylotrophicus (Agrofit, 2021). Além do Brasil, essas espécies são comercializadas em muitos outros países (Bettiol et al., 2012; Cawoy et al., 2012).
Importância de um protocolo de avaliação da eficiência
Um dos gargalos do controle biológico de doenças e pragas no Brasil é o controle de qualidade dos bioprodutos, tanto comerciais disponíveis, como de fermentação “on farm” ou caseira, sendo indispensável a padronização de metodologias para a avaliação da qualidade e conformidade de produtos contendo agentes de biocontrole. Considerando que as bactérias do gênero Bacillus estão entre os organismos mais empregados na agricultura brasileira, tanto nos produtos comerciais registrados, como de produção caseira, é fundamental o estabelecimento e disponibilização de metodologias de análise da qualidade desses produtos, protegendo a saúde dos produtores e dos consumidores.
Ciência desenvolve protocolo para avaliar qualidade dos produtos biológicos à base de bacilos no Brasil
Um novo protocolo pode ajudar a resolver um dos principais gargalos para a expansão do controle biológico no Brasil: a análise da qualidade dos bioprodutos à base de bacilos (bactérias) utilizados nas lavouras para combater doenças e pragas. Desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP), consiste na quantificação do número de estruturas viáveis dos microrganismos, expresso em unidades formadoras de colônias por mililitro ou grama (UFC/mL ou UFC/g). Além de garantir mais segurança a agricultores e consumidores, a metodologia pode aumentar a adoção e colaborar com a ampliação do mercado para os produtos biológicos à base de bacilos no País.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Wagner Bettiol, a mensuração por unidades formadoras de colônias é usada em microbiologia para estimar o número de bactérias viáveis. “Essa quantificação é indispensável para avaliar a qualidade do produto. É o que determina a concentração adequada do microrganismo para garantir a sua eficiência. Se os valores obtidos na análise forem inferiores aos informados no rótulo do produto registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há indicação de que o produto está fora do padrão e, portanto, sujeito aos procedimentos de fiscalização”, pontua Bettiol.
Segundo a engenheira agrônoma da Ballagro Agro Tecnologia Ltda. Zayame Vegette, o protocolo pode nortear as empresas na fase de desenvolvimento de produtos biológicos, visto que os valores obtidos permitem fazer os acertos necessários durante a produção e ao longo dos processos de registros do produto, além de fornecer informações fundamentais para as recomendações de rótulo.
Em relação à produção on farm ou “caseira”, largamente utilizada no País, cujos produtos não são comercializados, não há necessidade de garantia mínima do número de unidades formadoras de colônias por mL ou por grama. Mas, segundo Bettiol, os resultados podem auxiliar os agricultores na definição dos volumes a serem aplicados para poder atingir o efeito desejável no controle das doenças e das pragas, bem como colaborar na melhoria do processo de fermentação das bactérias.
Controle biológico em expansão no Brasil
O registro de produtos biológicos no Mapa indica expansão desse mercado no Brasil. De 27, em 2011, passou para 137, em 2018; 200, em 2019 e alcançou 500, em 2022. Esses dados indicam a tendência de adoção crescente de tecnologia mais sustentável pelos agricultores.
Os produtos formulados à base de bactérias e os obtidos via fermentação on farm são os mais utilizados no controle de doenças e de pragas das plantas no Brasil.
Além da eficiência, eles apresentam outra característica importante: o fato de formarem endósporos (estrutura de resistência), que permitem sua sobrevivência por longos períodos no ambiente, além de aumentar a sua vida de prateleira para período superior a dois anos.
Foto: Embrapa
Controle com qualidade
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), atualmente vinculada à CropLife Brasil, o mercado de agentes de controle biológico cresceu mais de 70% no Brasil nos últimos anos. Impulsionado principalmente pelas demandas dos consumidores por produtos mais saudáveis, enfrenta ainda como gargalo o controle de qualidade dos bioprodutos comerciais e caseiros. “A padronização de metodologias para a avaliação da qualidade e conformidade é fundamental para proteger a saúde dos produtores e dos consumidores”, acrescenta Bettiol.
O novo protocolo é resultado do projeto Qualibio, iniciado em 2008, com o objetivo de desenvolver metodologias para análise da qualidade de produtos biológicos. No momento, as metodologias desenvolvidas estão voltadas para a avaliação de bactérias do gênero Bacillus e também de fungos do gênero Trichoderma, que são os principais agentes de controle biológico de doenças de plantas no Brasil. Mas, futuramente, podem ser estendidas para outros microrganismos utilizados como agentes de biocontrole.
O Qualibio foi coordenado pela Embrapa Meio Ambiente e desenvolvido em parceria com a Embrapa Arroz e Feijão, Instituto Biológico de São Paulo, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
Clique aqui para saber mais sobre o novo protocolo.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Embrapa/Notícias – Ciência desenvolve protocolo para avaliar qualidade dos produtos biológicos à base de bacilos no Brasil. Manejo Integrado de Pragas. Novembro de 2022.
BETTIOL, W.; MORANDI, M. A. B.; PINTO, Z. V.; LUCON, C. M. M. Controle de qualidade e conformidade de produtos e fermentados à base de Bacillus spp.: proposta metodológica. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2022. 15 p.