A vitivinicultura como alternativa rentável no cerrado foi um dos destaques das reuniões técnicas e palestras da Expovitis 2024, realizada de 19 a 21 de julho, no Distrito Federal. Uma delas, a do pesquisador Giuliano Pera, da Embrapa Uva e Vinho, apresentou as novas tecnologias da Embrapa para a vitivinicultura, no painel Tecnologias, Pesquisas e Perspectivas para a Vitivinicultura Brasileira. “São tecnologias vitícolas, enológicas, que foram validadas no Rio Grande do Sul e na região do Cerrado (Projeto Trijunção) e estão disponíveis para toda a viticultura brasileira”, afirmou. A Expovitis foi realizada no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF.
Foto: Valtair Comachio
Dentre essas tecnologias estão variedades BRS tanto para vinhos finos, quanto vinhos de mesa e sucos, sistemas de condução, leveduras BRS, sistemas de alertas para doenças e ferramentas que ajudam o produtor a identificar carências nutricionais ou mesmo doenças nas plantas. De acordo com o pesquisador, a ideia é implantar várias dessas tecnologias em propriedades parceiras na região do DF, por meio de um trabalho conjunto entre a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Cerrados, a Vinícola Brasília, a Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin) e a Coopa-DF.
“Queremos mostrar que a nossa vitivinicultura pode ser uma alternativa muito rentável, mudando o cenário de uma região, porque ela possibilita impulsionar o enoturismo, valorizar a enogastronomia da região, além do artesanato e da cultura local, proporcionando desenvolvimento rural e urbano sustentável como alternativa para a agricultura familiar e, também, para a agricultura empresarial’, afirmou o pesquisador.
Segundo o pesquisador Giuliano Pereira, a produção de vinhos no DF segue o modelo iniciado e validado pela Epamig em Minas Gerais. Esse modelo se expandiu para todos os estados do sudeste e do centro-oeste do Brasil, com foco na produção de vinhos de inverno, com as colheitas de uvas entre junho e agosto, adotando-se a técnica da dupla poda.
“Nesse período, ocorrem os três fatores primordiais para a elaboração de vinhos que expressem elevada tipicidade, que são dias ensolarados, solo seco e amplitude térmica entre dia e noite. Esses fatores favorecem, principalmente, a síntese do metabolismo secundário das videiras, promovendo elevadas concentrações de compostos fenólicos e aromáticos nas uvas e nos vinhos”, explicou o especialista.
A surpresa da sommelier
“Esse vinho entregou um tripé interessante de leveza, frescor e uma doçura não exagerada. É um vinho aromático e elegante, além disso, também é um vinho gastronômico; com ele posso brincar com diversas harmonizações”. Essa foi a avaliação feita pela sommelier Bárbara Soares, ao degustar o vinho branco produzido com a variedade de uva BRS Lorena, desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho (RS), na Expovitis 2024.
A BRS Lorena é a variedade híbrida de maior sucesso entre as uvas desenvolvidas pela Embrapa, para a elaboração de vinhos, destacando-se principalmente por sua produtividade, doçura e potencial enológico. O público que visitou o estande da Embrapa nos três dias de evento (19 a 21 de julho) também pôde degustar um vinho tinto, feito com a uva BRS Magna, outro vinho branco, elaborado com a uva BRS Bibiana, além de três sucos de uva integral, das variedades BRS Rubea, BRS Magna e outro da BRS Cora.
“Fiquei muito impressionada com a feira. Não esperava que ela tivesse a dimensão que teve em termos de tamanho e, também de organização. Outra característica muito interessante do evento é ter sido focado nos vinhos nacionais. A grande maioria das feiras não faz isso”, destacou Andrea de Rossi, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho.
Trabalho articulado
Essa articulação das duas unidades busca unir a expertise da Embrapa Uva e Vinho com as tecnologias das cultivares e do sistema de produção com a da Embrapa Cerrados relacionada à parte de fitotecnia e à validação de cultivares na região do Cerrado, em parceria com o setor produtivo, em prol do desenvolvimento ainda maior da vitivinicultura na região. “É muito importante que a gente consiga juntos, unindo esforços, contribuir de alguma forma para esse setor que está em expansão”, afirmou Fábio Faleiro, chefe de TT da Embrapa Cerrados.
“Essa aproximação da Embrapa Uva e Vinho com a Embrapa Cerrados é fundamental para que a gente possa apoiar a vitivinicultura que está crescendo na região. Sozinhos muito pouco iríamos conseguir fazer em termos de contribuição, principalmente por conta da distância física que estamos dos vitivinicultores do Cerrado’, explicou Andrea de Rossi, chefe de TT da Embrapa Uva e Vinho.
Durante a feira, foram realizadas reuniões entre gestores e pesquisadores das duas unidades com representantes do setor produtivo. “A Embrapa Cerrados já é parceira de muitos desses vitivinicultores. Isso facilita bastante o trabalho e é fundamental para que a gente consiga sim contribuir com as nossas tecnologias, com nosso conhecimento e, assim, gerar novos resultados”, avalia de Rossi. Uma das reuniões foi realizada no dia 18/08, na vinícola Vila Triacca, localizada no PAD-DF, contando com gestores e pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e Embrapa Cerrados, além de empresários da Vinícola Brasília, Anprovin e Coopa-DF.
A montagem do estande da Embrapa na Expovitis 2024 contou com o apoio dos programas de inovação da Embrapa Cerrados – Agrointegra (Programa de Inovação para o Desenvolvimento do Polo do DF e Entorno da Rota do Leite e Respectiva Integração Lavoura, Pecuária, Floresta, Fruticultura e Floresta – ILPFF) e Frente (Programa de Inovação de Suporte à Rota da Fruticultura da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno).
Qualidade diferenciada
O cultivo de uva na região do Cerrado tem aumentado de forma significativa nos últimos anos, especialmente na região do DF e Entorno. De acordo com o pesquisador Nilton Junqueira, especialista da Embrapa Cerrados em fruticultura, o sistema de produção para a uva nas condições do Cerrado vem sendo aprimorado e isso envolve um esforço grande dos produtores. “A gente aprende muito com eles e essa troca de conhecimento é primordial”, afirmou. Segundo ele, o sistema utilizado na região é uma adaptação do usado em Petrolina (PE), Jales (SP) e Pirapora (MG). “Só que nessa região em que estamos clima e solo são diferentes e é necessário ajustar as técnicas de cultivo”, explica Junqueira.
O pesquisador Nilton Junqueira destacou ainda a qualidade do produto que vem sendo produzido no Cerrado. Segundo ele um dos fatores que favorecem esse resultado é a amplitude térmica da região. “Aqui se produz um fruto de qualidade, doce e ácido ao mesmo tempo”. Para o especialista, é importante, no entanto, que haja nas propriedades diversificação de cultivos, tanto para garantir renda para o produtor, quanto para contribuir com a geração de emprego.
Fonte: Embrapa 03/08/2024