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Pecuária no Cerrado: Breve histórico

Pecuária no Cerrado: Breve histórico

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Segundo dados da Embrapa, o Brasil tem hoje mais de 200 milhões de ha de pastagens nativas ou cultivadas no país, onde mais de 90% estão sobre solos de baixa fertilidade e elevada acidez que são as características principais de solos de ambiente tropical como o nosso. E de cara isso nos apresenta dois problemas sérios que acontecem até hoje nessa atividade: Se esse tipo de solo não for bem trabalhado e manejado, ele logo chega a seu limite de suporte e começa um forte processo de degradação, diminuindo drasticamente a capacidade produtiva de forragem e consequentemente de cabeças por hectare e o segundo problema é que historicamente a maioria dos produtores pecuaristas não tem o costume de investir no incremento de fertilidade desse solo, uma vez que no Brasil essa atividade é considerada quase extrativista.

Esses dois problemas que são complementares e fazem com que a atividade entre em um ciclo insustentável e difícil, uma vez que os custos de produção ficam cada vez mais caros e a produtividade cada vez mais baixa, dificultando ainda mais o reinvestimento no manejo.

Ao contrário do produtor de grãos, que ao iniciar as atividades de cultivo no Cerrado, investiu fortemente em tecnologia, insumos e técnicas para aumento de produtividade, ou seja, usou mais do “fator capital”, o pecuarista permaneceu utilizando mais o “fator terra”, aproveitando ao máximo a fertilidade residual aliada à baixa exigência das cultivares de pastagem e migrando para outras áreas conforme as primeiras iam ficando improdutivas.

Porém diante de todo o cenário ambiental que vem se desenhando ao longo das últimas décadas, uma vez que estamos chegando ao limite possível de abertura de áreas, chega-se a conclusão que se esse perfil da pecuária de corte não for alterado com certa agilidade, corre-se o risco de um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de carne bovina em um futuro não muito distante e sérios prejuízos ambientais. Sabe-se também que o setor evoluiu muito nesse sentido nos últimos anos, o que vamos comentar mais pra frente nesse artigo, mas ainda estamos muito longe do ideal, com muita coisa a ser melhorada. E na verdade no cerne dessa questão existe um problema, que talvez não seja exatamente o manejo do solo em si, mas a falta de gestão dessas propriedades.

E esse artigo não tem o objetivo de condenar ninguém, mas sim entender a causa deste problema e o que pode ser feito para melhorar esse cenário, pois estima-se que ainda mais de 70% das áreas de pastagens estão em algum nível de degradação, segundo a Embrapa.

Por que a pecuária foi para o caminho extrativista?

Bem, a gente sabe que o produtor pecuarista tem uma tendência e preferência muito forte por investir na qualidade do rebanho, deixando o investimento no pasto em segundo plano, mas sabemos que não adianta nada ter a melhor genética animal, se não há investimento na parte nutricional para a máxima expressão do potencial dessa genética. É igual alimentar um super atleta só com farinha e água…uma hora ele não dá conta…

E para começar a falar de pasto, quais foram as espécies mais utilizadas desde o começo da expansão da atividade no Cerrado?

Segundo dados do livro: Cerrado: Uso Eficiente de Corretivos e Fertilizantes em Pastagens da Embrapa (Sousa, D. M. G. et al, 2007), até a década de 70, as pastagens nativas ou naturalizadas como o capim-gordura, o capim-jaraguá e o capim colonião representavam a maioria das áreas de pastagem no Brasil. Durante décadas o capim-colonião era o preferido e considerado insuperável por proporcionar melhor qualidade de engorda de bovinos no Cerrado. Porém devido a esse modelo extrativista, o uso dessa forrageira não se sustentou, uma vez que ela apresenta elevada exigência nutricional em comparação com as outras. Foi aí que a partir da década de 70 e 80 começou a surgir a preferência pelas espécies de braquiárias, selecionadas pelos pesquisadores no Brasil e na Austrália como uma opção para substituição das pastagens nativas ou naturalizadas. Só entre 1970 e 2004 houve um aumento de 112 milhões de hectares em pastagens cultivadas onde essa espécie predominava, segundo dados do Anuário estatístico do Brasil (2004).

Em relação a distribuição das espécies de braquiária cultivadas, segundo dados de Zimmer et al (1998), adaptado por Macedo (2000), em primeiro lugar, no início da utilização da espécie braquiária, em 55% das áreas, a mais plantada era a Brachiaria decumbens, em segundo, com 21%, ficava a Brachiaria brizantha e em terceiro lugar com 8% das áreas vinha a Brachiaria humidicola.  Depois a Brachiaria brizantha (conhecida como capim-braquiarão) passou a ser a mais plantada por conta da grande infestação de cigarrinha-das-pastagens que começou na época e cuja variedade é mais resistente.

O gênero Brachiaria spp também tem outras vantagens em relação às espécies anteriormente cultivadas: além da baixa exigência em fertilidade, tem uma alta capacidade de rebrota após queima e é bastante persistente mesmo em condições inapropriadas de manejo.

E o resultado de tudo isso foi que essa substituição de espécies melhorou muito a performance da atividade principalmente pelo ganho expressivo na taxa de lotação, quadriplicando o valor de 0,2 a 0,4 unidades animal por hectare conseguidos na época para 0,8 até 1 unidade animal por hectare.

E esse é um dos fatores comentados no início do artigo que ajudaram a atividade a se manter ainda com característica extrativista. Além desse ajuste técnico na forragem que promoveu esse ganho significativo de produção, houve outros fatores como por exemplo os programas de desenvolvimento para ocupar o Cerrado promovidos pelo Governo Federal na época, na década de 70.

Também a situação econômica do País, que na época contava com uma alta volatilidade financeira, inflação elevada, credibilidade baixa da moeda, fazia com que os investimentos se tornassem mais arriscados, empurrando os produtores a optar por atividades de menor risco e de alta liquidez como é o caso da pecuária. Outra consequência é que essa situação também aumentava a procura por investimentos reais como compra de terras e elevava seu preço, ou seja, o produtor que tinha condições de investir, preferia investir em terra porque, além de ser menos arriscado, com o preço cada vez mais alto, mais valorizado era seu investimento. Tudo isso fazia com que a atividade, mesmo sendo de baixa produtividade e baixa receita, ainda fosse competitiva economicamente comparada com outras, tornando-se uma espécie de reserva de capital ao invés de um negócio para se aperfeiçoar, empurrando o manejo adequado cada vez mais para segundo plano.

Esse foi um breve histórico da ocupação da atividade pecuária no Cerrado e uma breve discussão sobre os motivos de sua baixa performance até então. Nos próximos artigos iremos falar sobre os fatores de degradação de uma pastagem e perspectivas da atividade para o futuro!

Fonte: “Cerrado: Uso eficiente de Corretivos e Fertilizantes em Pastagens”. Autores: Alexandre de Oliveira Barcellos; Geraldo Bueno Martha Junior; Lourival Vilela, Djalma Martinhão Gomes de Souza e Luís Gustavo Barioni. Planaltina, DF: Embrapa, 2007.

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Tags: histórico da pecuária, pecuária no cerrado, por que a pecuária é extrativista

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