(Curadoria Agro insight)
Hoje, na curadoria Agro Insight, apresentamos os principais gargalos do Agro 4.0. Os entraves são apontados no livro “Potencialidades e desafios do agro 4.0”
No capítulo referente ao tema gargalos nas cadeias produtivas do agronegócio foram identificados os principais problemas e, também, possíveis soluções e inovações que podem transformá-los em oportunidades. Fontes de energia renováveis e de qualidade; reformulação da cadeia de suprimento e insumos; regulação e incentivo ao uso de biológicos na produção agropecuária; avanços em conectividade para o ambiente rural; programas de inteligência logística focados no agronegócio; e ATER são os destaques que foram expostos.
GARGALOS:
1. DEFENSIVOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS NO BRASIL
Quanto aos principais gargalos que envolvem os defensivos químicos e biológicos no Brasil, destacam-se:
a) A legislação brasileira é extremamente complexa, burocrática e baseia-se na avaliação do perigo, ou seja, desatualizada do que atualmente é praticado no cenário global. A avaliação dos riscos é importante ferramenta do sistema regulador da grande maioria dos países desenvolvidos. Maior simplicidade e agilidade nesse processo serão decisivos para que os produtores rurais tenham ingredientes ativos eficientes e atualizados à disposição;
b) Longas filas e anos de espera para a obtenção dos registros dos produtos: em média são seis anos para se conseguir registrar um produto genérico e dez anos para aprovação de novas tecnologias. Muitas vezes, quando o produto é autorizado no Brasil, já se encontra defasado.
c) As prioridades dos agricultores por novos registros não recebem a atenção devida dos órgãos de saúde e meio ambiente: as demandas do órgão de agricultura para controle de pragas importantes (exemplos: helicoverpa, bicudo, mosca branca, ferrugem da soja e outros) são frequentemente questionadas pelos demais órgãos envolvidos no registro;
d) Falta de regulamentação para produção on farm dos defensivos biológicos (biodefensivos): a falta de regras e requisitos gera muitas dúvidas e insegurança jurídica aos produtores rurais na decisão de adotar e utilizar os produtos biológicos em suas propriedades rurais, bem como na decisão de produzi-los com segurança;
e) Não existe um plano de phase in para substituir as moléculas antigas que foram retiradas (banidas) do mercado devido ao processo de reavaliação por problemas toxicológicos ou impactos ambientais;
2. FERTILIZANTES E CORRETIVOS
Dentre os insumos agrícolas de grande impacto na produtividade, encontram-se os fertilizantes e corretivos, especialmente considerando as áreas tropicais com solos naturalmente ácidos e de baixa fertilidade que exigem a correção e a reposição sistemática de nutrientes para garantir a produção vegetal sustentável.
De acordo com a Embrapa6, um grande desafio para os próximos anos será reduzir a dependência externa por fertilizantes. Com esse intuito, será necessária a implantação de um plano estratégico cujos pilares deverão ser:
a) uma política de incentivo ao aumento da produção industrial nacional;
b) um programa de PD&I para o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos para o ambiente tropical e subtropical, que aumentem a eficiência do uso de fertilizantes, diminuam sua participação nos custos de produção das culturas agrícolas e da pecuária e minimizem o impacto ambiental negativo, sobretudo nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE);
c) boas práticas para evitar a contaminação de corpos hídricos, superficiais e subterrâneos;
d) novas alternativas principalmente para os fertilizantes nitrogenados, com foco na redução de emissões de GEE.
3. BIOTECNOLOGIA, SOFTWARES AGRICULTURA DIGITAL/PRECISÃO
Os agricultores optam por culturas biotecnológicas porque estas oferecem aumentos nos rendimentos, reduzem os custos de produção e proporcionam maiores retornos financeiros.
De acordo com um recente estudo da Embrapa, o futuro da digitalização da agricultura brasileira quanto à pesquisa, à inovação e os negócios deverão se amplificar rapidamente em infraestruturas e serviços como:
a) Inteligência artificial cognitiva para acompanhamento da produção;
b) Análises multiescalares e multifontes dos riscos agrícolas
c) Monitoramento das propriedades em tempo real por sensoriamento remoto;
d) Sistemas de predição de manutenção de máquinas e equipamentos;
e) Processamento de big data e small data agrícolas em nuvem;
f) Plataformas de comercialização via circuitos curtos integrando os produtores aos consumidores;
g) Aplicativos de ensino e trabalho a distância com segurança de procedimentos administrativos e interação social de equipes;
h) Tecnologias de blockchain e criptografia digital para a segurança de transações comerciais e a rastreabilidade de produtos e alimentos;
i) Sistemas de gestão técnico-financeiro considerando aspectos econômicos, ambientais e sociais da propriedade;
j) Segurança e privacidade de dados e informações geradas em todos os processos digitais.
4. CONECTIVIDADE E A FALTA DE COMUNICAÇÃO DE DADOS NAS PROPRIEDADES RURAIS
Cerca de 70% das propriedades rurais brasileiras ainda sofrem com a falta de acesso à internet (são quase 3.4 milhões de fazendas sem Internet cuja produção ainda não passou pela transformação digital), o que impacta diretamente o uso de tecnologias da informação e comunicação que corroboram para o aumento da produtividade e eficiência de processos para o setor do Agro.
O Estudo Internet das Coisas conduzido pelo consórcio McKinsey/Fundação CPqD/ Pereira Neto, apontou, 4 frentes de aplicação de IoT que podem trazer inúmeros benefícios aos produtores das cadeias produtivas brasileiras, conforme segue:
a) Produtividade e Eficiência – Incremento da produtividade e redução de custos com insumos: monitoramento de umidade, temperatura e nutrientes do solo; monitoramento da plantação para identificação rápida de pragas e fungos; mapeamento de uso, aptidão e condições de solo para identificação de uma melhor cultura; monitoramento meteorológico; mapeamento do zoneamento agroclimático; adoção de imagem aérea por drone para definição de áreas mais adequadas para plantio.
b) Gestão de Equipamentos – Monitoramento do desempenho dos equipamentos: rotas inteligentes para todas as operações do ciclo produtivo, que maximizam a área coberta; identificação preditiva de necessidade de manutenção.
c) Gestão de Ativos/ Animais – Monitoramento da localização dos animais por GPS ou rádio para evitar perdas por roubos; monitoramento da saúde do animal com geração de alertas em caso de doenças e armazenamento do histórico do animal; monitoramento do peso do animal para definição do ponto ótimo do abate.
d) Produtividade Humana – Suporte no redesenho de organizações através da utilização dos fluxos de dados com a interação dos funcionários com o mundo físico; disponibilização de informações em tempo real das atividades e localização dos funcionários; uso de realidade aumentada para monitoramento do trabalho.
5. CUSTOS DE PRODUÇÃO E MELHORIA DO PACOTE TECNOLÓGICO
A agropecuária mundial se caracteriza por sua estrutura de mercado na qual os produtores rurais são tomadores de preço e, o balanço de oferta e demanda, dita a receita das propriedades rurais. Nesse cenário, a renda dos produtores tornou-se dependente das condições de mercado estabelecidas no país e, para muitas culturas, pela estrutura global desses mercados.
É evidente que o uso racional e eficiente dos fatores de produção é uma necessidade para a sustentabilidade econômica da agropecuária brasileira. Para todos os níveis de produtores, o desenvolvimento tecnológico será um forte aliado na busca de redução de custo e ampliação da competitividade.
Nesse contexto, pontuam-se os principais desafios tecnológicos para a Agropecuária 4.0 no que se refere a custos de produção:
a) Aumento da eficiência da mão de obra e o do uso de mecanização em atividades de menor escala;
b) Disponibilização de mecanismo de aumento da eficiência de uso de insumos materiais como defensivos e fertilizantes;
c) Ampliação contínua do melhoramento genético;
d) Maior acessibilidade a ferramentas de gestão como softwares e sensores e tecnologias para automatização de processos;
e) Estímulos ao uso racional e assertivo de energia e água dentro do processo produtivo;
f) Capacitação de técnicos e produtores no uso de novas tecnologias inerentes aos seus processos produtivos.
6. COMERCIALIZAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL
O crescimento da população e o aumento da renda per capita são os principais drivers da demanda global por alimento e fibras, por consequência, esses fatores incentivam a produção e o comércio de produtos agropecuários.
Quanto aos principais desafios tecnológicos no que se refere à comercialização nacional e internacional brasileira, encontram-se:
a) Redução de custos e perdas no transporte nacional e exportação. Buscar meios de melhoria de infraestrutura e aprimoramento logístico ainda é um desafio para o país;
b) Aferir por meio de rastreabilidade, certificações e políticas públicas de diferenciação e credibilidade socioambiental do produto brasileiro no mercado internacional;
c) Plataformas comerciais digitais, seguras e que reduzam os custos de intermediários no processo de compra e venda de produtos agropecuários;
d) Acesso à informação de preços atualizados, garantindo maior poder de barganha ao produtor no momento da venda do seu produto;
e) Ampliação da acessibilidade às ferramentas de mercado hoje já existentes.
7. FALTA DE ENERGIA DE QUALIDADE NAS PROPRIEDADES RURAIS
A base produtiva vem sofrendo com a deficiência no fornecimento de energia e má qualidade na zona rural, além do alto custo que onera a produção. As frequentes oscilações de tensão e as quedas no fornecimento causam sérios prejuízos às propriedades rurais, inclusive provocando a perda de equipamentos e produção. A energia elétrica é insumo básico para a produção agropecuária e essencial para a conectividade no Agro.
Com isso, no âmbito do desenvolvimento tecnológico, sugere-se:
a) Ampliação do acesso às novas tecnologias modulares de geração de energia a partir de biomassa, solar e eólica;
b) Estabelecimento de metodologias economicamente viáveis para mensuração, valoração e pagamentos pelos serviços ambientais prestados pela autogeração de energia em propriedades rurais;
c) Disponibilização de ferramentas de acesso a financiamentos para instalação e geração de energia oriunda de fontes renováveis;
d) Ampliação do acesso à tecnologia que incentive a economia circular e o uso das fontes energéticas dentro das propriedades rurais;
e) Adequações tecnológicas de máquinas e equipamentos de uso corriqueiro para que possam ser operados fazendo-se uso de fontes renováveis disponíveis nas propriedades.
7. RASTREABILIDADE
Os consumidores confirmam-se mais conscientes e exigentes por informações e dados envolvendo a origem dos alimentos e suas certificações produtivas que indiquem melhores práticas ambientais, sociais e econômicas.
8. ASPECTOS DA LOGÍSTICA
A logística é o elo de maior desafio para o segmento agrícola pela necessidade que se tem de internalizar insumos, alguns originados no mercado internacional e, mais importante, escoar a produção para o abastecimento interno e exportação, tudo isso em grandes volumes, mantendo a qualidade. Pontualidade e o menor custo possível para resguardar a competitividade das exportações. No desenvolvimento da logística, a escolha do modal de transporte mais apropriado é fundamental para alcançar a competitividade no mercado.
9. CAPACITAÇÃO E EXTENSÃO RURAL
A extensão rural tem um papel imprescindível na evolução da agricultura brasileira.
Na era da Agricultura 4.0, saídas aos desafios que envolvem a assistência técnica, capacitação e extensão rural no Brasil precisam ser priorizadas tanto por políticas governamentais como por iniciativas do setor privado, trazendo soluções no horizonte de médio e longo prazo que serão fundamentais para o estabelecimento de um cenário menos excludente e mais sustentável. Apontando-se como temas prioritários:
a) Difusão da assistência técnica como precursora do fortalecimento da classe média rural e redução das discrepâncias entre o acesso e a aplicação de tecnologias;
b) Capacitação técnica por meio de recursos digitais e acessíveis que promovam acessibilidade a informações de qualidade, mesmo em regiões de fronteira agrícola, envolvendo os parâmetros gerenciais das propriedades rurais;
c) Políticas públicas de apoio aos jovens empreendedores rurais, fomentando novos empreendimentos e ferramentas tecnológicas de amplo acesso como auxílio à permanência do jovem no campo;
d) Organização de pequenos e médios produtores como forma de viabilizar investimentos em tecnologias e a obtenção de escala de produção, necessária para o acesso a mercados mais remuneradores;
e) Diversificação da renda rural através de atividades transversais, como o pagamento por serviços ambientais, agroturismo, pequenas agroindústrias e valorização de alimentos tradicionais e artesanais.