ClimaCuradoriaSojaSustentabilidade
0

Estratégias tecnológicas e de manejo para evitar prejuízos com a falta de água na cultura da soja

Estratégias tecnológicas e de manejo para evitar prejuízos com a falta de água na cultura da soja

Seja bem-vindo(a) a Newsletter da Agro Insight, um espaço de artigos autorais e curadoria sobre tecnologias, sustentabilidade e gestão para o agro.

Se você ainda não é assinante, junte-se a mais de 8 mil profissionais do Agro, consultores e produtores rurais que recebem gratuitamente conteúdos de qualidade selecionados toda semana, adicionando o seu e-mail abaixo:

(Curadoria Agro Insight)

Nas últimas três safras, somente o Rio Grande do Sul e o Paraná, segundo e terceiro maiores produtores brasileiros de soja, atrás apenas de Mato Grosso, deixaram de produzir mais de 15 milhões de toneladas de soja, o que resultou em prejuízo econômico da ordem de U$ 8 bilhões, considerando-se o valor de U$ 500,00 a tonelada, segundo levantamento feito pela Embrapa.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com o início da primavera, em 2021, o clima passa a sofrer influência do fenômeno La Niña, que poderá impactar também a safra de verão, por causa da irregularidade de chuvas e da indisponibilidade de água. Enquanto a variabilidade do clima é responsável por aproximadamente 50% da oscilação de produtividade das culturas agrícolas, os aspectos relacionados à genética e ao manejo da cultura e do solo respondem pelos outros 50%.

Estratégias de mitigação

Para atenuar o impacto da seca, Farias cita, por exemplo, o ajuste fitotécnico das cultivares, por meio da adoção de variedades adaptadas para cada região, com diferentes ciclos e semeadas, de forma escalonada, para aumentar as chances de escape das lavouras em relação à incidência de veranicos na fase de enchimento de grãos. Outro aspecto a ser considerado é a época de semeadura, que deve coincidir com menor risco de ocorrência de falta de água de acordo com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático – Zarc e o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes à seca.

Apoio da biotecnologia

Além das estratégias de manejo, o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes à seca também é uma ferramenta que pode contribuir na mitigação dos efeitos da seca na cultura da soja. Nesse sentido, pesquisas da Embrapa Soja, desenvolvidas em colaboração com institutos de pesquisa do Japão (Universidade de Tóquio, Riken, Japan International Research Center for Agricultural Sciences – Jircas) mostram que as ferramentas biotecnológicas podem contribuir com o aumento da tolerância à seca em soja. Por meio da manipulação genética, os pesquisadores conseguiram introduzir um gene – isolado da planta Arabidopsis thaliana – que torna a planta mais tolerante à seca.

A importância do Zarc

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é uma ferramenta de análise do risco derivado da variabilidade climática e que considera as características da cultura e do solo. Seu objetivo é reduzir os riscos relacionados aos problemas climáticos e permite ao produtor identificar a melhor época para plantar, levando em conta a região do País, a cultura e os diferentes tipos de solos.

O modelo agrometeorológico considera elementos que influenciam diretamente no desenvolvimento da produção agrícola como temperatura, chuvas, ocorrência de geadas, água disponível nos solos, demanda hídrica das culturas e elementos geográficos (altitude, latitude e longitude).

O acesso à ferramenta pode ser feito no aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária (SP), que está disponível nas lojas de aplicativos iOS e Android. Os resultados do Zarc também podem ser consultados e baixados por meio da plataforma “Painel de Indicação de Riscos” e nas portarias de Zarc por Estado.

Diversificação de culturas e manejo do solo

Entre as principais estratégias recomendadas para contornar o problema está a diversificação de culturas e a adoção de práticas de manejo do solo que melhorem a construção de perfil do solo para aumentar o armazenamento, o enraizamento em profundidade, a maior infiltração de água e o menor escorrimento superficial.

O consórcio de milho com braquiária é uma alternativa de diversificação que traz pouca mudança no sistema operacional, mas que traz grande impacto à qualidade dos sistemas de produção. A consorciação de milho com a braquiária é o primeiro passo para minimizar os efeitos da compactação do solo que, entres outros malefícios, atrapalha a infiltração de água.

Levantamento desenvolvido pela Embrapa, pelo IDR-PR e pela cooperativa Cocamar demonstrou que áreas do Paraná cultivadas há vários anos com a sucessão milho segunda safra-soja apresentaram, em média, 20 milímetros por hora de infiltração de água. Por outro lado, áreas cultivadas com milho consorciado com braquiária têm demonstrado que existe um ganho de 20 mm/hora na taxa de infiltração para cada ano de uso do consórcio. Assim, para áreas com mais de cinco anos de uso desse consórcio, a taxa de infiltração ultrapassa 100 mm/hora. Isso traz um grande impacto na conservação do solo e da água uma vez que, ao aumentar a taxa de infiltração, se diminui drasticamente a água que escoa na superfície do solo, reduzindo o potencial erosivo.

Os sistemas diversificados também são mais lucrativos. Por quatro safras, o pesquisador Henrique Debiasi contabilizou, em experimento na Embrapa Soja, a produtividade da soja depois do milho solteiro e depois do consórcio do milho com braquiária.

No início da safra 2020/2021, por exemplo, houve um forte déficit hídrico no experimento em Londrina (PR) e, mesmo assim, a soja plantada depois do consórcio do milho com braquiária apresentou rendimento 10% superior quando comparada com a soja pós milho solteiro.

A palhada da braquiária reduz a evaporação de água e mantém o solo em temperatura adequada para o crescimento das raízes da soja. Porém, o mais importante é o trabalho feito pelas raízes da braquiária, que torna o solo mais fértil.

Programa SBC

Os especialistas recomendam ainda a adoção de práticas que favoreçam o sequestro de carbono na produção de soja, o que é uma ação de mitigação para reduzir os gases de efeito estufa. A Embrapa Soja apresentou em 2021 a iniciativa do Programa Soja Baixo Carbono (SBC), que está reunindo diversos atores da cadeia produtiva para definir as etapas de construção da iniciativa a ser concluída em 2023.

O Programa SBC permitirá a identificação da soja produzida sob um conjunto de práticas culturais e de tecnologias, que tornem o processo mais eficiente – por unidade de carbono equivalente (C-CO2) emitida – em relação ao que existe disponível no mercado global.

O conceito está sendo pautado na mensuração dos benefícios e na certificação das práticas de produção que comprovadamente tenham baixa emissão de GEEs. O Programa SBC utilizará uma metodologia brasileira, baseada em protocolos científicos validados internacionalmente, a partir de critérios objetivamente mensuráveis, reportáveis e verificáveis. A certificação da soja brasileira será voluntária, privada e de empresas especializadas (certificação de 3ª parte).

A definição dos princípios, diretrizes, critérios, práticas agrícolas e indicadores a serem seguidos para produção da SBC será conduzida, sob a coordenação de um comitê gestor, e seguirá padrões internacionais de preparação de normas.

Soja e água

De acordo com Farias, as mudanças climáticas têm trazido elevação de temperatura, o que amplia a demanda da planta por água. A tendência é de secas mais frequentes e de chuvas torrenciais, em maior intensidade, ou seja, com distribuição deficitária ao logo da safra. Para produção agrícola, além de volume de chuva adequado, é necessário boa distribuição ao longo do ciclo.

Atualmente mais de 95% da soja brasileira é cultivada em regime de sequeiro (sem irrigação). No caso da soja, a necessidade de água pela planta durante a floração e o enchimento de grãos é de cerca de oito milímetros por dia.

Aproximadamente 90% do peso da planta de soja é formado por água, que desempenha inúmeras funções como reagente (na hidrólise) solvente (permite que gases, minerais e outros componentes entrem nas células e caminhem pela planta), e turgescência, por exemplo.

A soja melhor se adapta a temperaturas do ar entre 20°C e 30ºC e a temperatura ideal para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30°C. O pesquisador explica que a necessidade de água na cultura da soja, para obtenção do máximo produtividade, varia entre 450 a 800 mm/ciclo, dependendo das condições climáticas e de solo, do manejo da cultura e da duração do ciclo. A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para assegurar boa germinação. Além de afetar a germinação e a emergência da planta, a falta de água interfere no rendimento da lavoura, quando atinge principalmente o período de floração e o enchimento de grãos.

As chances de reversão do aumento médio de 1,5ºC na temperatura no planeta nos próximos 20 anos é baixa, de acordo com o relatório divulgado, neste semestre, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo o documento, os eventos serão mais extremos, com chuvas e secas mais frequentes, intensas e prolongadas.

REFERÊNCIAS E LINKS RELACIONADOS

Especialistas recomendam estratégias tecnológicas para mitigar falta de água em soja

Se inscreva na nossa Newsletter gratuita

Espaço para parceiros do Agro aqui

Tags: estresse, Estresse hídrico, falta de água, manejo adequado, seca, soja

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  
LinkedIn
YouTube
Instagram