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Agricultura digital

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 (Curadoria Agro Insight)

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Na curadoria Agro Insight de hoje vamos tratar de uma nova revolução da agricultura, a revolução tecnológica focada no digital. Para tratar desse tema, selecionamos um texto do livro “Agricultura Digital: Pesquisa, desenvolvimento e inovação nas cadeias produtivas”, publicado pela Embrapa.

A transformação digital no campo rumo à agricultura sustentável e inteligente

A agricultura mundial tem o desafio de garantir a segurança alimentar fornecendo alimentos, fibras e energia limpa de forma sustentável. O cenário global previsto é crítico: população mundial atingindo nove bilhões de habitantes em 2050; crescente escassez dos recursos terra e água; mudanças climáticas e eventos extremos; níveis de renda per capita e urbanização ascendentes; novos consumidores digitalizados demandando alimentos mais nutritivos e funcionais; e ganhos de produtividade em ritmo decrescente em alguns países.

Projeções baseadas em padrões de crescimento populacional e consumo de alimentos indicam que a produção agrícola precisará aumentar em pelo menos 70% para atender às demandas até 2050. A maioria das estimativas também indica que as mudanças climáticas provavelmente reduzirão a produtividade agrícola, a estabilidade da produção e a renda em algumas áreas que já apresentam altos níveis de insegurança alimentar. O desenvolvimento de agricultura inteligente, portanto, torna-se crucial para alcançar as metas futuras de segurança alimentar. (FAO, 2010).

Consoante com a sustentabilidade do planeta, em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visando promover uma sociedade mais justa e que respeitasse o meio ambiente. Os 17 ODS constituem um apelo universal para proteger o planeta e garantir que todas as pessoas tenham dignidade, visando conduzir governos, empresas e sociedades para um mundo mais sustentável e inclusivo. Eles servem como uma orientação para os países superarem os desafios ambientais, políticos e econômicos mais urgentes.

Dentre os 17 ODS, alguns podem ser atendidos por ações diretamente relacionadas com a agricultura, como ilustra a Figura 1. Assim, o ODS 2, de Fome Zero, pode ser minimizado por meio do aumento na produção agrícola; o ODS 6, de Água Potável e Saneamento, remete ao uso sustentável de água nas atividades de irrigação e na agricultura de forma geral; o ODS 8, de Trabalho Decente e Crescimento Econômico, pode ser atendido pela promoção de ações de melhoria das condições dos pequenos produtores rurais e agricultores familiares e pela ampliação do acesso à informação; o ODS 9, de Indústria, Inovação e Infraestrutura, pode ser amparado pelo aperfeiçoamento das cadeias produtivas; o ODS 11, de Cidades e Comunidades Sustentáveis, é apoiado pela maior integração entre campo e cidade; o ODS 12, de Consumo e Produção Responsáveis, pode ser alcançado pelo controle de perdas de safras e desperdícios de alimentos; o ODS 13, de Ação Contra a Mudança Global do Clima, pode ser atingido pela mitigação dos riscos das mudanças climáticas e pela redução de emissão de gases de efeito estufa nas atividades da pecuária; o ODS 14, de Vida na Água, é suportado por meio do aperfeiçoamento da produção aquícola; o ODS 15, de Vida Terrestre, pode ser monitorado pelo mapeamento do uso de cobertura da terra e pela produção agrícola sustentável; e, por fim, o ODS 17, de Parcerias e Meios de Implementação, é suportado pelo maior compartilhamento de informações entre parceiros agrícolas (Project Breakthrough, 2017).

Em meio a todos esses desafios, surge a mais nova adversidade, representada pela pandemia causada pelo Coronavírus, atingindo a saúde de milhões de pessoas, abalando toda forma de convivência social, interrompendo a educação nas escolas e causando graves prejuízos em todos os setores da economia – inclusive na cadeia de produção e distribuição do agronegócio, afetando o preço das commodities agrícolas. Prins (2020) relata que a Covid-19 está direcionando a transformação de dados agrícolas em três aspectos: 1) aumento da digitalização; 2) aumento da colaboração digital; e 3) visibilidade, principalmente devido às disrupções na cadeia de valor, que tornam o planejamento uma ferramenta fundamental no processo de suprimento de produtos agrícolas. Os prejuízos causados pela pandemia ainda estão sendo calculados, e serão necessárias novas políticas e estratégias, não só de mitigação de riscos, integração nacional e cooperação internacional, mas também de incentivos fiscais e econômicos para que o mundo retorne ao seu curso de desenvolvimento.

O Brasil é o maior exportador mundial de soja, café, açúcar, suco de laranja, etanol de cana-de-açúcar, carne bovina e frango. Em 2019, as exportações do agronegócio foram da ordem de US$ 96,8 bilhões, representando 43,2% do total exportado pelo país. A agricultura brasileira é baseada em mais de 300 espécies de cultivos e envia para o mundo 350 tipos de produtos, que chegam a 200 mercados do planeta. O Brasil é grande produtor de grãos, carne e frutas, e o setor agropecuário contribui com 21,1% do PIB e 20% da força de trabalho (Embrapa, 2019). A atual safra de grãos no país (2019/2020) está sendo indicada como novo recorde histórico, estimada em 250,5 milhões de toneladas, 3,5% (ou 8,5 milhões de toneladas) superior ao colhido em 2018/19 (Acompanhamento da Safra Brasileira [de] Grãos, 2020).
No país, a agricultura familiar é responsável por parte importante da produção nacional de alimentos. Cerca de 50% dos estabelecimentos da agricultura familiar concentram-se na região Nordeste, 19% na região Sul, 16% na região Sudeste, 10% na região Norte e 5% na região Centro-Oeste. A Bahia é o estado com maior número de estabelecimentos familiares (15%), seguida por Minas Gerais (10%). Esses dois estados possuem também as maiores áreas com estabelecimentos familiares, cerca de 10 milhões e 9 milhões de hectares, respectivamente (Embrapa, 2019).

Diante de todos esses desafios apresentados na agricultura, principalmente o de aumentar a produção agrícola sem ampliar significativamente a área plantada, torna-se premente o uso cada vez mais intenso de novas tecnologias para permitir os ganhos de produtividade de forma sustentável.

Nesse contexto surgiu um novo fator de produção que está modificando a base de crescimento econômico para os países em todo o mundo. Trata-se da transformação digital, uma nova abordagem em que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) desempenham papel-chave na transformação da estratégia, da estrutura, da cultura e dos processos das organizações, utilizando o alcance e o poder da internet.

Por meio de novos investimentos em tecnologias e modelos de negócios, espera-se melhorar o engajamento dos clientes digitais em todos os pontos de contato no ciclo de vida de sua experiência. A transformação digital consiste no uso das TIC para aumentar de forma significativa a performance e o alcance das empresas por meio da mudança na maneira como os negócios são feitos. São três os elementos da transformação digital: transformação da experiência do cliente, dos modelos de negócios e dos processos operacionais (Transformação Digital, 2020).

Algumas tecnologias apontadas como críticas na transformação digital são: computação em nuvem, internet das coisas, mídias sociais, mobilidade, Big Data e ciência de dados, inteligência artificial, realidade aumentada e realidade virtual, robótica, conectividade ubíqua, aprendizado de máquina, gêmeos digitais (digital twins, em inglês) e automação, além dos avanços na biotecnologia e na bioinformática e a nanotecnologia. Essas áreas, agindo de forma sinergética e complementar, têm o poder de transformação da nova ordem mundial, culminando no que tem sido apontado como a quarta revolução industrial, também chamada Indústria 4.0. Além disso, a queda do custo dessas tecnologias avançadas desempenha um papel importante na aceleração da inovação (World Economic Forum, 2017).

As tecnologias disruptivas, aliadas às inovações mais recentes, prometem alavancar as pesquisas na agricultura. A convergência das áreas de Nanociência, Biotecnologia, TIC e Ciência Cognitiva (NBIC) irá propiciar um grande salto qualitativo na forma como o mundo da agricultura pode ser transformado. A evolução da abordagem de sistemas, matemática e computação, em conjunto com o trabalho em áreas NBIC, permitirá, pela primeira vez, compreender o mundo natural e a cognição em termos de sistemas complexos e hierárquicos. Aplicada tanto para problemas específicos de pesquisa quanto para a organização geral de instituições de ciência e tecnologia, essa abordagem de sistemas complexos fornece consciência holística e oportunidades de integração, a fim de obter o máximo de sinergia ao longo das principais direções do avanço científico e tecnológico para a agricultura (Kim et al., 2012).

O Fórum Econômico Mundial lançou a Iniciativa de Transformação Digital, em 2015, em colaboração com a empresa Accenture (2020), para servir de ponto focal para novas oportunidades e temas emergentes relacionados aos últimos desenvolvimentos na área da digitalização de negócios e da sociedade. Essa iniciativa suporta as ações do Fórum em torno dos temas relacionados à Quarta Revolução Industrial. Desde a sua criação, a iniciativa analisou o impacto da transformação digital em diversos setores como: Agricultura, Aviação, Viagens e Turismo, Química e Materiais Avançados, Mineração e Metais, Óleo e Gás, Serviços profissionais, Varejo, Telecomunicações, Automotivo, Consumidor, Eletricidade, Cuidados de saúde, Logística, e Mídia (World Economic Forum, 2017).

A partir da transformação digital, houve a proliferação das startups, cuja definição mais utilizada é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza, conforme Yuri Gitahy, investidor-anjo e fundador da empresa Aceleradora (2020) e conselheiro da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) (Associação Brasileira de Startups, 2019). As startups são altamente flexíveis em relação às empresas tradicionais e têm um objetivo claro e rapidez para adaptar-se, mudar, criar, reformular estratégias, enxergar e gerar novos mercados e novas possibilidades de monetização. Em 2020, a ABStartups contabiliza mais de 13 mil startups entre suas filiadas (StartupBase, 2020).

Nesse cenário, surgem novas oportunidades para a utilização dessas inovações na agricultura. Para que o Brasil possa garantir, ou mesmo ampliar, sua capacidade de produção com sustentabilidade, ao mesmo tempo que atende à demanda global por segurança alimentar e nutricional como um grande exportador de commodities agrícolas, tornam-se necessárias a modernização, a tecnificação e a inovação em toda a cadeia de produção agrícola, convergindo para a agricultura digital, como resultado da transformação digital do setor.

De acordo com o documento de Visão 2030 da Embrapa (2018), as TIC e seus acelerados avanços, como as mídias sociais e as plataformas digitais, transformaram as formas de relacionamento, interação e comunicação entre empresas e consumidores. Os computadores e os celulares cada vez mais acessíveis, a internet de baixo custo e a tecnologia Wi-Fi possibilitam acesso à informação e propiciam crescente protagonismo do consumidor na tomada de decisão na hora de comprar, bem como no compartilhamento de experiências e no controle de produtos e marcas. O avanço da economia digital e colaborativa incrementa, além do nível de informações, as habilidades e o engajamento dos consumidores, bem como as condições necessárias para que eles sejam crescentemente protagonistas nas decisões nos processos produtivos, promovendo o seu empoderamento (Gazzola et al., 2017).

Não é de se surpreender que, nessa era de amplas e profundas transformações ocasionadas pelas TIC, uma das principais forças formadoras da visão de futuro da agricultura brasileira seja a influência exercida pelo novo consumidor, cada vez mais conectado por meio das redes sociais para promover suas escolhas de consumo e influenciar seus pares e os sistemas de produção agrícola. Munido de mais informação e maior conhecimento acerca dos produtos oferecidos e seus preços, esse agente econômico se torna cada vez mais um determinador dos atributos que deseja, potencializado pelas oportunidades e ferramentas digitais. Indivíduos crescentemente interligados com seus aparelhos continuamente conectados à rede (web) e com acesso a qualquer tipo de informação em tempo real são fortes formadores de opinião em seus círculos de influência, o que demonstra que a confiança que eles depositam nas organizações (fornecedores) impacta fortemente a sobrevivência delas. (Embrapa, 2018).
A mais recente pesquisa brasileira da TIC Domicílios do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), realizada em 2019, mostra que 50% da população brasileira já usou computador, 74% usa a internet e 99% possui telefone celular (Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2019). Conforme o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2017, o número de produtores que declararam ter acesso à internet cresceu 1.900%, passando de 75 mil, em 2006, para 1.430.156 em 2017, sendo 659 mil através de banda larga e 909 mil via internet móvel (IBGE, 2019).

No estudo “A mente do Agricultor Brasileiro na Era Digital”, da empresa McKinsey & Company, os pioneiros na adoção de agricultura de precisão no Brasil e conhecedores de tecnologias são jovens produtores de cultivo de larga escala, como grãos (32%) e algodão (62%). Entre eles, 47% usam pelo menos uma tecnologia de agricultura de precisão, ao passo que 33% usam duas ou mais. Ainda, segundo o estudo, a aplicação em taxa variável e os drones são as tecnologias mais adotadas, sendo que a internet das coisas, a telemetria e o sensoriamento remoto também encontram vários adeptos.

Uma outra pesquisa foi realizada numa parceria entre a Embrapa, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (Santin, 2020), constatando-se que 84,1% dos agricultores entrevistados utilizam pelo menos uma tecnologia digital em seu processo produtivo. As principais funções das tecnologias digitais utilizadas pelos agricultores são: obtenção de informações e planejamento das atividades da propriedade (66,1%); gestão da propriedade rural (43,3%); compra e venda de insumos, produtos e da produção (40,5%); mapeamento e planejamento do uso da terra (32,7%); e previsão de riscos climáticos como geada, granizo, veranico e chuvas intensas (30,2%).

Autores: Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, Maria Angelica de Andrade Leite, Ariovaldo Luchiari Junior e Sílvio Roberto Medeiros Evangelista

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

MASSRUHÁ, S.M.F.S.; LEITE, M.A. de A.; OLIVEIRA, S.R. de M.; MEIRA, C.A.A.; LUCHIARI JUNIOR, A.; BOLFE, E.L. Agricultura digital: pesquisa, desenvolvimento e inovação nas cadeias produtivas. Embrapa Informática Agropecuária, 2020.

AGRICULTURA digital no Brasil: tendências, desafios e oportunidades: resultados de pesquisa online. Campinas: Embrapa, 2020, 44 p.

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Tags: agricultura digital;, embrapa, startup

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